349. Bullhead

sábado, 25 de fevereiro de 2012
Postado por Selton Dutra Zen


(Mediano)

De início, "Bullhead" (ou "Rundskop", como preferirem), candidato belga a melhor filme estrangeiro no Oscar, aparenta ser um suspense policial excessivamente confuso e regular. E o é. Porém, conforme os minutos de projeção vão passando, o filme adota, cada vez mais, a abordagem de algo muito mais interessante de forma muito mais eficiente: o passado do protagonista. Apresentado como uma figura corpulenta e rude, logo somos remetidos ao seu passado (por meio de flashbacks muito bem empregados) e começamos a entender o porquê de seu caráter e de suas atitudes. Assim, pode-se afirmar que este filme se desenvolva por dois viés: o thriller policial e o drama pessoal. No primeiro, fracassa vorazmente, no segundo, acerta completamente. 

A culpa, e ao mesmo tempo, mérito desta situação pertence ao roteiro. Frio e cru, narra a trajetória de Jacky, um homem criador de gado, com um passado negro, que acaba se envolvendo com um traficante de hormônios e a morte de um policial. Mas, cá entre nós, a única coisa realmente relevante na narrativa inteira é a persona multifacetada de Jacky. Intrigante e envolvente, o personagem principal é o motivo de eu taxar este filme com uma nota, ao menos, razoável. Se no início da projeção, o julgávamos e o condenávamos por inúmeros atos seus, mais tarde, esta situação se converte em pena, complacência e até apoio, por assim dizer. Esta exploração do personagem acontece através de flashbacks magnificamente bem utilizados (talvez uma das melhores utilizações da técnica no ano passado!), que cuidam de adentrar na infância e na adolescência sofrida de Jacky. Pena que o roteiro não se encarregue de ressaltar somente este viés e deixar a trama policial em segundo lugar, simplesmente como objeto desencadeador de acontecimentos, um simples pano de fundo. Ao invés disso, "Bullhead" dedica sua primeira meia hora somente a maçante investigação, além de mais longos e inúmeros minutos a ela também. 

E se "Rundskop" erra (de certa forma) no roteiro, acerta em sua técnica. Apresenta uma fotografia panorâmica bem executada, onde a câmera parece passear pelos cenários, e uma direção de arte interessante. Porém, o que se destaca mesmo é a magistral montagem que, como já citei anteriormente, intercala entre flashbacks e cenas temporais de forma brilhante, precisa e nada repetitiva. A edição também merece aplausos por empregar transições criativas, inteligentes e discretas entre o passado e o presente. Já a edição de som é igualmente louvável. Entende perfeitamente o conceito de que a ausência de sons (se bem utilizada) pode ser muito mais claustrofóbica e angustiante que a presença de ruídos persistentes e incômodos. A execução notável deste recurso pode ser exemplificada na cena em que o protagonista (ainda criança) foge do deficiente mental que o persegue pelos campos extensos. Nesta cena, a câmera o acompanha de forma incisiva e a carência de sons funciona muito melhor do que qualquer áudio que poderia-se utilizar neste momento.  

Por consequência, "Bullhead" se afirma como um longa de técnica admirável e de roteiro repleto de passagens desnecessárias. E volto a insistir que se este filme colocasse em segundo plano a investigação policial, e abordasse muito mais o aprofundamento psicológico do protagonista, poderia ser um dos grandes filmes do ano passado.

Gênero: Drama
Duração: 124 min.
Ano: 2011

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