333. Sleeping Beauty

terça-feira, 22 de novembro de 2011
Postado por Selton Dutra Zen 4 comentários


 (Mediano)

A impressão que tenho ao ler críticas e comentários acerca de "Sleeping Beauty" é que este talvez seja o filme mais incompreendido do ano! O que muitas pessoas enxergaram como superficialidade, vago roteiro  e entediamento, eu digeri como deslocamento (em um contexto positivo). Aliás, toda essa produção poderia ser resumida a esta palavra, e vários elementos no decorrer da projeção provam esta teoria. 

Para início de conversa, o roteiro, que aborda um segmento da vida de uma adolescente que aceita o trabalho de prostituta de luxo dopada de sonífero enquanto "trabalha", não é vago ou superficial, mas sim, eficiente. Certo que o mesmo não merece ser classificado como profundo, mas também não como vago, pois cumpre a sua função, com alguns deslizes, mas em uma visão macro, consegue passar o que pretendia logo de início. É certeiro ao retratar o cotidiano infeliz da personagem de forma lúcida e nos apresentar à característica principal da protagonista: o DESLOCAMENTO. Em letras garrafais pois este é o foco de todo o filme. A garota, apesar de possuir alguns colegas e até um namorado, não se sente completamente satisfeita, preenchida, mas sim deslocada. Isso a leva a tentar suprir este vazio e se localizar, no prazer, na promiscuidade, nas drogas. Até que culmina no prostíbulo, onde seu trabalho é ser dopada com sonífero, deitada na cama e servir de objeto sexual para magnatas que possuem esse fetiche. 

Outro ponto que comprova a palavra em questão como resumo do filme, agora na parte técnica, é o figurino da personagem principal, sempre destoante do grupo em que está inserida. Basta notar que, em seu primeiro dia de trabalho, ela se veste com uma lingerie branca e deselegante, enquanto as outras prostitutas se vestem de preto com roupas íntimas muito mais requintadas. Outro elemento interessante de se notar é a maquiagem, esbranquiçada ao extremo, que acrescenta um ar desbotado, apagado à imagem da garota, a deslocando mais ainda. 

Além disso, a fotografia e a edição se encarregam de explorar o lado melancólico da universitária, com poucos cortes e movimentos lentos e pausados de câmera. E isso, para alguns, soou entediante, mas a mim, soou esclarecedor, por me deixar mais a par da situação da personagem em questão. 

Todavia, vários erros se tornam evidentes no decorrer dos minutos, que prejudicam muito a qualidade da obra, como a direção errônea que claramente possui dificuldades na coordenação de atores e da edição, resultando em atuações um tanto artificias e cenas desnecessárias. Até o roteiro, que elogiei acima, possui seus deméritos. Alguns diálogos são horríveis e forçados e, pode até soar contraditório, mas a exploração da protagonista não é das melhores. Obviamente esta parte merece muitos méritos e estes já foram expostos no segundo parágrafo, mas também há inúmeros deméritos. Alguns personagens inseridos para representar o passado da protagonista são completamente dispensáveis, pois não acrescentam nada à trama ou à caracterização da universitária, o que acaba soando como uma tentativa completamente fracassada de aprofundamento na vida da persona em questão. Esses personagens acabam preenchendo cenas desnecessárias que, infelizmente, não foram eliminadas na edição final (ai entra uma parcela de culpa da direção). E, para completar, o final também deixa muito a desejar por, este sim, ao contrário de todo o resto da obra, soar vago e superficial.

Assim, "Sleeping Beauty" decai e se configura como um filme mediano, diria até que esquecível e neutro, pois nenhuma cena manifestou-me alguma sensação, mas com certeza está longe de ser algo horrível e pavoroso, como alguns afirmam. 

Gênero: Drama
Duração: 97 min.
Ano: 2011

332. Meia-Noite em Paris

quinta-feira, 17 de novembro de 2011
Postado por Selton Dutra Zen 3 comentários


(Excelente)

Woody Allen ama Nova York. E seus filmes se encarregam de provar isto, basta assistir a "Manhattan" ou a maioria restante de suas obras. Por este motivo, estranhei vê-lo homenageando uma cidade extra-Nova York, com "Meia-Noite em Paris". Porém, esse estranhamento rapidamente deu lugar a sensação de conforto e prazer que tanto esta produção exala. 

Owen Wilson interpreta um escritor frustrado e infeliz que, após se perder numa noite, tentando voltar para casa, escuta um relógio badalar avisando a chegada da meia-noite, e um carro o leva para a década de 20,  à lugares estranhos, nos quais o escritor se encontra com personalidades (cineastas, escritores, pintores, etc..) mortas há muito tempo. 

E este foi meu outro estranhamento (positivo) quanto ao filme, pois ele acaba, por ventura, flertando muito com a ficção científica, porém de um jeito completamente inovador. Allen se utiliza da viagem no tempo para nos fazer refletir sobre o modo como nós, seres humanos, estamos sempre descontentes com o que temos. E o portal para outra era surge como uma metáfora à vontade que todos temos de mudar drasticamente de vida, porém não possuímos coragem suficiente para isso.  

A transição da idade contemporânea para a década de 20 é soberba e sutil! Só percebi esta mudança de mais ou menos 90 anos, na metade da projeção. Além disso, a direção de arte é sublime, ao retratar de forma magistral os ambientes da época sem se configurar exagerada ou artificial. E, contribuindo mais ainda para a representação citada, a fotografia, excelente, acrescenta um tom acolhedor e aconchegante aos anos 20 e um tom mais frio, seco na década atual, representando a agradabilidade e o desconforto, respectivamente.

E isto é ressaltado por Owen Wilson, em uma interpretação surpreendente, que se encarrega de enfatizar mais ainda o descontentamento de seu personagem com a vida que leva, além de dominar e transparecer de forma excelente os trejeitos do próprio Woody Allen que, como de praxe em suas obras, quando não atua, personifica suas manias em algum personagem da trama. Surgindo como uma "vilã" (entre aspas por ser a pessoa que, mesmo involuntariamente, torna a vida do pobre escritor infeliz), Rachel McAdams desempenha de forma competente e convincente o papel da noiva desse mesmo escritor. Não obstante, ainda vemos alguma pontas de Kathy Bates, uma veterana, sempre ótima. Mas o outro grande destaque no elenco (depois de Owen) vai para Marion Cotillard, a eterna Piaf, que se revela uma atriz completamente adaptável aos papéis que aceita protagonizar, sem deixar o nível de qualidade decair.

O roteiro e a direção do gênio Woody Allen são fantásticos. O primeiro, além de proporcionar os questionamentos intimistas para o espectador, ainda nos reserva várias situações muito divertidas, envolvendo personalidades da época retratada, como quando o protagonista sugere a ideia do filme "O Anjo Exterminador" para Luis Buñuel: -"Senhor Buñuel, tenho uma boa ideia para um filme. Algumas pessoas estão num jantar chique, e no fim deste jantar tentam sair da sala mas não podem." -"Por que não?" [...] -"Não sei, pense nisso. Talvez um dia ao se barbear ache a resposta." E esta é apenas uma das inúmeras sequência inusitadas inseridas no filme.

Assim, "Meia-Noite em Paris" acaba se tornando um dos melhores filmes da segunda parte da carreira de Allen (dos anos 90 até hoje), e um dos melhores lançamentos do ano!


Gênero: Comédia
Duração: 93 min.
Ano: 2011

331. O Retorno de Johnny English

sexta-feira, 11 de novembro de 2011
Postado por Selton Dutra Zen 1 comentários


(Mediano)

Até então, Rowan Atkinson e seu icônico Mr. Bean não falharam. "Até então" não, reformularei esta frase. Até dois dias atrás, minutos antes de assistir seu mais novo filme, "O Retorno de Johnny English", que se posiciona muito aquém da qualidade dos outros filmes protagonizados pelo personagem. E, reformularei mais uma vez a primeira sentença deste post dizendo que, o grande erro não foi proveniente deste comediante maravilhoso e (ouso dizer) o melhor da atualidade no gênero, mas sim do roteiro, absurdo, despreocupado e ridículo, que acaba se desmoronando logo nos primeiros minutos de projeção e, infelizmente, levando o filme inteiro para uma semi-cova. 

Semi-cova pois, em contrapartida ao roteiro pavoroso que esta comédia possui, somos apresentados à situações hilárias e algumas gags interessantes. Algumas, porque a maioria das boas ideias da produção são ofuscadas pelo péssimo script (escrito a quatro mãos, por obséquio), que, acreditem, resgata algumas das piadas (e situações) mais clichês e preguiçosas que venham em suas mentes neste momento, incluindo até balas que, quando degustadas, alteram drasticamente o grave da voz do sujeito que as ingeriu. E, não obstante, o quarteto de roteiristas se utiliza de uma história que possibilita um grande leque de tramas, subtramas, e afins, porém a desperdiça em algo que evolui tão mal que é impossível não se incomodar com as absurdidades de algumas cenas e o amadorismo dos envolvidos. Claro que não fui assistir a este filme esperando uma trama genial aos moldes dos filmes de mais alto nível no tema espionagem, mas esperava, pelo mínimo, ser convencido de que os profissionais que escreveram "O Retorno de Johnny English", cultivassem o mínimo zelo pela obra.

Aliás, antes que me esqueça: a história. Johnny English é contratado para proteger o primeiro ministro francês, onde é encarregado de derrotar uma organização secreta que pretende matar esta figura política de renome.

Outro pecado (desta vez menor) do filme é sua tentativa frustrada de satirizar os filmes de James Bond, optando - erroneamente-, por uma trilha sonora caricata demais e explicitamente copiada das composições das produções de 007. E, somado ao fato de algumas cenas serem quase idênticas aos filmes satirizados, com a diferença de que aqui, elas possuem um caráter cômico bem mais acentuado, transforma o deboche impregnado em inúmeras passagens de "O Retorno de Johnny English" em algo forçado, enjoativo e exagerado. Claro que há algumas exceções que fogem à esta regra, como a abertura que abriga os créditos iniciais ou os olhares hilários de Rowan Atkinson, que funcionam como uma ótima brincadeira despretensiosa.

E, por falar em Atkinson, o mesmo deve ser encarado como um dos grandes nomes da comédia atual e, como disse no primeiro parágrafo, talvez o melhor do gênero nos dias de hoje. E a prova de tudo isso é que ele sustenta o filme inteiro nas costas sem dificuldades nenhuma, já que a própria direção também é falha.

Como podem perceber, "O Retorno de Johnny English" é portador de muitos deméritos, porém, talvez por eu ser fã de Mr. Bean, o filme me conquistou, cativou e arrancou várias gargalhadas, tornando-se assim, uma obra paradoxal. Se, por um lado temos vários elementos destoantes, que nos impedem de apreciar completamente a produção, em outro, temos algo extremamente divertido e hilário, que, pelo menos a mim,  transformou a expressão vazia de quando entrei na sala de cinema, em um sorriso acentuado, além de lágrimas nos olhos de tanto rir!

Gênero: Comédia
Duração: 101 min.
Ano: 2011