317. O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante

sábado, 25 de junho de 2011
Postado por Selton Dutra Zen 5 comentários

(Obra-prima)

Alguns filmes possuem um poder emocional tão grande que é impossível esquece-los. Este é o caso de "O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante". Aos cinco minutos de projeção já estava arrebatado com a grandeza e magnitude desta obra-prima!

A história é um tanto simples: Um mafioso é dono de um restaurante no qual vai jantar todos os dias, junto de sua mulher e seus empregados (um deles interpretado satisfatoriamente bem por Tim Roth). Lá, sua mulher conhece e se apaixona por um outro homem. Eles iniciam uma paixão tórrida regada a sexo e comida.

Mas não pense que é um filme agradável de se assistir. Pelo contrário, ele é nojento e repulsivo. Trata a comida de uma forma desagradável, por mostrar os bastidores do restaurante. Na parte externa e na cozinha do mesmo presenciamos o processo de preparamento das refeições servidas às pessoas no salão principal. Nos deparamos com caminhões recheados de carnes podres, cães caminhando em meio aos alimentos e pessoas sem camisa, soadas cortando legumes em uma cozinha suja e infecta. E é lá que os amantes irão se encontrar para fazerem sexo. Em uma das cenas mais repulsivas, o casal transa em meio a peixes e cabeças de porco em estado de putrefação. Aliás, as cenas de sexo, bem como todo o resto do filme, são de um lirismo ímpar! Apesar de nojentas, são líricas, um paradoxo gritante!

"O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante" retrata o ser humano como um animal, semelhante a um livro naturalista. Seus olhares e suas atitudes denotam que a qualquer momento estão prontos para atacar verbal ou fisicamente o próximo. E, desconstruindo cada um dos personagens do título, chegamos a conclusão de que o menos animalesco é justamente o amante, sempre passivo, calmo e racional. O cozinheiro serve somente como protetor do casal de amantes, abrigando e encobrindo seus encontros sexuais. O ladrão é o mafioso, apresentado como a figura mais desprezível do filme. O mais semelhante à um animal. Não exita em agredir e ofender seus empregados ou clientes. É absurdamente violento, anti-ético e descontrolado. O mais detestável de toda a produção, sem dúvida. A mulher, esposa do mafioso, interpretada maravilhosamente bem por Helen Mirren, é insegura, infeliz e retraída. É apresentada claramente como escrava sexual de seu marido. Em certa cena, ela fala: "Ele tem uma caixa, ao lado da cama, com uma escova de dentes, uma colher de pau, um trenzinho de brinquedo e uma garrafa de vinho. Ele me faz usar tudo aquilo. Se eu não fizer por vontade própria, ele faz, e quando eu faço, dói menos!". E o amante, como já referido acima, é seguro, racional e tranquilo.

O filme se desenvolve somente em dois ambientes: o restaurante (sua parte externa, a cozinha, o salão principal - onde se janta - e o banheiro) e o apartamento do amante (um lugar cheio de livros velhos empilhados). Tudo isso é construído da forma mais genial possível pela magnífica direção de arte, que retrata o lado externo e a cozinha do restaurante de uma forma bem teatral (a própria estrutura foi montada em um galpão), e repugnante, com um chão sujo, alimentos espalhados em todos os cantos e (em algumas vezes) fumaça vinda do chão, como se fosse proveniente de um esgoto. O salão principal é requintado, limpo e organizado, com uma forte tonalidade de vermelho, uma clara ironia, uma vez que os clientes comem a comida sem saber ou se importar com as condições sanitárias do lugar de onde esta veio, simplesmente porque o ambiente onde jantam transmite organização. E o banheiro é branco. Exageradamente branco. Toda a magnitude da direção de arte de "O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante" é ressaltada pela fotografia também excelente, que opta por cores fortes e vibrantes, refletindo o caráter da paixão do casal principal, e o uso brilhante de sombras e pouca iluminação, nos momentos certos, para acrescentar mais sensação de falta de higiene. E o figurino, estilo barroco, extremamente exagerado, denota o poder financeiro dos clientes.

"O Cozinheiro, O Ladrão, Sua Mulher e o Amante" lembra muito Federico Fellini, pelo lirismo e com certeza influenciou Lars Von Trier a fazer a obra-prima "Dogville", e sua sequência "Manderlay".

Enfim, é uma obra-prima maravilhosa! Um filme essencial para qualquer cinéfilo! É forte, sensual e cativante. Quando esta produção se encerra, deixa o espectador boquiaberto e nauseado!

Gênero: Drama
Duração: 124 min.
Ano: 1989

Cinefilia 15: 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer

terça-feira, 21 de junho de 2011
Postado por Selton Dutra Zen 0 comentários


Neste post, diferente de todos os outros, não irei discutir sobre um filme, mas sim sobre um livro! Sim, o livro "1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer". Como não possuo conhecimentos avançados sobre literatura para criticar os elementos literários desta obra, irei me ater ao conteúdo: os filmes.

Alguns criticam, outros apoiam, mas uma coisa é fato: é um livro essencial para qualquer cinéfilo. Além de servir como fonte de curiosidades, este livro ainda fornece esclarecimentos sobre vários movimentos cinematográficos, diretores e história, tanto do cinema, quanto mundial. É extremamente abrangente. Abrange desde curtas-metragens independentes experimentais aos maiores clássicos de Hollywood. Desde filmes de 1902 à 2007.

Como em toda lista, senti falta de vários títulos indispensáveis e me envergonhei de ver outros ridículos por lá. Obras-primas maravilhosas como "A Vida é Bela", "De Olhos Bem Fechados", "Dogville" e "O Grande Ditador" não constam, porém produções vergonhosas como "Top Gun - Ases Indomáveis" e "As Patricinhas de Beverly Hills" tem seu lugar em meio a grandes clássicos.

Além disto, vários erros na ficha técnica de alguns filmes estão presentes, como por exemplo, em "E O Vento Levou", a duração consta como 222 minutos, quando o correto é na verdade 233 minutos.

Muitos filmes que mereciam maior destaque foram deixados de lado, enquanto outros menos importantes foram ressaltados.

Mas estes deméritos são relativos. Na verdade, "1001 Filmes Pra Ver Antes de Morrer" é um livro completamente relativo, como todo guia e/ou lista. Aliás, esta obra é acima de tudo um guia para cinéfilos e é exatamente por isso que é indispensável para qualquer amante da sétima arte. Mas um alerta! É um livro enorme (943 páginas ao todo) e feito única e exclusivamente para os apaixonados por cinema, sendo assim, curiosos sobre o assunto não irão chegar ao fim!

Em uma visão macro, "1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer" é um livro excelente, um guia considerável e uma lista muito completa (dada as proporções).

E para você, qual filme faltou na lista dos 1001 melhores?

316. Se Beber Não Case 2

segunda-feira, 6 de junho de 2011
Postado por Selton Dutra Zen 2 comentários

(Bom)

"Se Beber Não Case 2" basicamente resgata a carcaça de seu antecessor e troca o lugar onde os fatos vão se desenrolar. Algumas cenas e falas são idênticas ao primeiro filme. Além disto, esta continuação é bem mais apelativa que o filme de 2009, com mais nudez, drogas e palavrões, mas apesar de tudo, ainda assim é um filme muito divertido!

Para criar um filme a partir da carcaça do original e até copiar algumas cenas dele, o diretor do projeto precisa ser ao menos muito bom. Caso contrário... basta observar bombas como "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu 2". E levando em conta que Todd Phillips não é um diretor muito bom, responsável pelos fraquíssimos "Caindo na Estrada", "Dias Incríveis" e "Starsky e Hutch", quando descobri que esta produção seria neste mesmo estilo, tive minha dúvidas de que iria funcionar. Mas depois lembrei que Phillips também dirigiu o muito bom "Se Beber Não Case" e fiquei mais confiante. Realmente ele se sai muito bem! Apesar de ser uma cópia do filme de 2009 consegue adicionar novas cenas e piadas muito engraçadas! O que denota a evolução de um diretor que pode se tornar um grande nome futuramente.

Desta vez os mesmos amigos acordam em um hotel em Bangkok, junto de um macaco e de um mafioso supostamente homossexual (presente no primeiro filme) morto. Como podem perceber, a trama toma vertentes muito mais absurdas e muitas vezes letais. Eles correm risco de vida! E é deste amontoado de situações absurdas que Todd Phillips retira tiradas algumas vezes hilárias!

Um fenômeno interessante e incomum que notei nesta produção foi que ele erra nos acertos de "Se Beber Não Case" e acerta nos erros do mesmo. Os erros do projeto de 2009 são os acertos deste de 2011, e vice-versa. Um exemplo muito forte é a trilha sonora, que no original era bem ruim, e nesta sequência é muito boa!

O elenco mantém o mesmo nível, com exceção de Zach Galifianakis que está muito melhor! Todavia, a participação especial de Paul Giamatti é horrível! Ele está completamente deslocado e desconfortável no filme!

Enfim, apesar de possui muitos erros, "Se Beber Não Case 2" é com certeza muito divertido! Talvez um dos mais divertidos filmes do ano!

Gênero: Comédia
Duração: 102 min.
Ano: 2011