(Bom)
Obs.: Este post contém spoilers!
Inicialmente, estava pronto para avaliar em três estrelas este mais novo longa do ótimo Scorsese. Porém, quando as citações à Meliès e ao cinema mudo se fizeram presentes, fiquei tão maravilhado que tive que aumentar minha nota. Para se ter uma breve noção da magnificência da homenagem cinematográfica que este exemplar realiza, basta dizer que se o filme todo possuísse a mesma qualidade de sua hora final (quando se torna substancial e mais emotivo), sem sombra de dúvidas seria o melhor filme de 2011. Pena que os outros 66 minutos deixem bastante a desejar.
A história discorre em sua maior parte em uma estação de trem, onde vive Hugo Cabret, um garoto órfão que resolve, a todo custo, consertar um robô encontrado por seu pai, pouco antes de sua morte. Apesar de as engrenagens do robô estarem perfeitamente arrumadas, ele necessita de uma chave, a qual faria o homem-máquina funcionar. Ao mesmo tempo que tenta encontrar esta chave, ele inicia um romance com uma garota culta e amante da leitura.
A prova cabal de que os primeiros 66 minutos não funcionam direito é que praticamente todas as ideias, tramas e sub-tramas que Scorsese emprega, não funcionam com o espectador. O romance se mostra sem-sal, a trama central é desinteressante e até a proposta louvável do diretor de se aprofundar na vida de alguns personagens assíduos da estação de trem deixa a desejar. Porém, nos 60 minutos finais, após os personagens descobrirem a verdadeira identidade do padrasto da garota protagonista, Georges Meliès, o filme evolui de uma forma inimaginável! Se dá início, então, à uma incursão na história do cinema, desde a descoberta de que as imagens podiam se movimentar, com os irmãos Lumière, até as mais famosas obras mudas e seus astros, referenciando "A Chegada do Trem à Estação", "A Saída dos Operários da Fábrica Lumière", "O Garoto", "O Beijo", "O Gabinete do Dr. Caligari", "Intolerância", "O Homem-Mosca", "A General", entre inúmeras outras obras-primas mudas, enquanto Scorsese cria uma cena realmente memorável (e um dos melhores momentos de toda a sua carreira), conciliando perfeitamente montagem de imagens e trilha sonora certeira. Construindo, assim, uma sequência capaz de emocionar até os cinéfilos menos emotivos. Todavia, a real homenagem é mesmo à Meliès, um dos maiores gênios da era muda. Com enfoque especialmente em "Viagem à Lua" (sua obra-prima máxima), Martin também discorre acerca de sua obras menos conhecidas, mostrando desde os bastidores da produção de curtas como "O Reino das Fadas", "Le Cake-walk Infernal" e "20.000 Léguas Submarinas", até apresentando fragmentos originais de mais curtas seus, como "O Melómano", "O Rei da Maquiagem" e "As 400 Faces do Diabo". E, no fundo, é esse o verdadeiro propósito do filme.
E se Martin Scorsese tivesse encurtado um pouco os longos minutos precedentes desta verdadeira essência, "A Invenção de Hugo Cabret" teria resultado em algo muito melhor.
Contudo, a técnica deste longa é excepcional e cuida de, ao menos, divertir o espectador enquanto a alma da produção não chega. As imagens criadas pelo realizador são de uma beleza incontestável. Seja pela direção de arte, vanguardista; pela fotografia, remetente aos filmes homenageados; ou até pelos efeitos visuais, que apesar de provavelmente perderem para "Planeta dos Macacos - A Origem", amanhã a noite, na minha opinião, mereciam muito mais o Oscar desta categoria. E, tudo isso, é amarrado de forma brilhante pela montagem inteligente e ágil. Mas, não obstante, ainda há o 3D, nada mais, nada menos que SUBLIME (com todas as letras garrafais que merece)! Ele exige que o filme seja conferido no cinema, a todo custo. A profundidade de campo, além do detalhamento de algumas cenas, encantam até o público mais acostumado com a tecnologia. E ver trechos de obras de Meliès em terceira dimensão é uma experiência inenarrável!
Já, no elenco, Ben Kingsley foi a escolha certeira para desempenhar o papel do cineasta pioneiro e mágico, dada suas semelhanças físicas. Kingsley emociona e ao mesmo tempo diverte com sua performance conquistadora. E um adendo interessante a se fazer é a esplêndida cena (voltando um pouco ao âmbito técnico) da sobreposição do rosto de Ben sobre o de Meliès, já no final da projeção. Por outro lado, Jude Law, que atua em poucas cenas, está fraco e um tanto artificial, eu diria.
Como consequência dos pontos altos e baixos da produção, "Hugo Cabret" merece sim ser visto no cinema, seja pela experiência visual, pelo 3D (principalmente) ou mesmo pelas referencias dignas a um cineasta que, por incrível que pareça, muitos cinéfilos deixam de lado. Porém, ando notando que, com a estreia deste longa, inúmeras pessoas se sentiram inspiradas e estão procurando ver mais curtas de Georges, o que é maravilhoso. Assim, "A Invenção de Hugo Cabret" não é um feito extraordinário, mas sim muito importante, já que as obras de Georges Meliès foram finalmente descobertas por tudo e todos. E, no fundo, há homenagem mais bela que essa?
Gênero: Aventura
Duração: 126 min.
Ano: 2011
Marcadores:
Críticas
E se Martin Scorsese tivesse encurtado um pouco os longos minutos precedentes desta verdadeira essência, "A Invenção de Hugo Cabret" teria resultado em algo muito melhor.
Contudo, a técnica deste longa é excepcional e cuida de, ao menos, divertir o espectador enquanto a alma da produção não chega. As imagens criadas pelo realizador são de uma beleza incontestável. Seja pela direção de arte, vanguardista; pela fotografia, remetente aos filmes homenageados; ou até pelos efeitos visuais, que apesar de provavelmente perderem para "Planeta dos Macacos - A Origem", amanhã a noite, na minha opinião, mereciam muito mais o Oscar desta categoria. E, tudo isso, é amarrado de forma brilhante pela montagem inteligente e ágil. Mas, não obstante, ainda há o 3D, nada mais, nada menos que SUBLIME (com todas as letras garrafais que merece)! Ele exige que o filme seja conferido no cinema, a todo custo. A profundidade de campo, além do detalhamento de algumas cenas, encantam até o público mais acostumado com a tecnologia. E ver trechos de obras de Meliès em terceira dimensão é uma experiência inenarrável!
Já, no elenco, Ben Kingsley foi a escolha certeira para desempenhar o papel do cineasta pioneiro e mágico, dada suas semelhanças físicas. Kingsley emociona e ao mesmo tempo diverte com sua performance conquistadora. E um adendo interessante a se fazer é a esplêndida cena (voltando um pouco ao âmbito técnico) da sobreposição do rosto de Ben sobre o de Meliès, já no final da projeção. Por outro lado, Jude Law, que atua em poucas cenas, está fraco e um tanto artificial, eu diria.
Como consequência dos pontos altos e baixos da produção, "Hugo Cabret" merece sim ser visto no cinema, seja pela experiência visual, pelo 3D (principalmente) ou mesmo pelas referencias dignas a um cineasta que, por incrível que pareça, muitos cinéfilos deixam de lado. Porém, ando notando que, com a estreia deste longa, inúmeras pessoas se sentiram inspiradas e estão procurando ver mais curtas de Georges, o que é maravilhoso. Assim, "A Invenção de Hugo Cabret" não é um feito extraordinário, mas sim muito importante, já que as obras de Georges Meliès foram finalmente descobertas por tudo e todos. E, no fundo, há homenagem mais bela que essa?
Gênero: Aventura
Duração: 126 min.
Ano: 2011
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