326. Confiar

quarta-feira, 21 de setembro de 2011
Postado por Selton Dutra Zen 5 comentários

(Mediano)

Atualmente, a pedofilia na internet movimenta milhões de dólares no mundo todo e, só no Brasil, estima-se que cerca de mil sites de pornografia infantil são criados por mês. E de certa forma, este é um assunto deixado um pouco de lado nas novas produções cinematográficas que vêm surgindo, ou até mesmo em toda a história do cinema. Raramente indico filmes fracos, mas "Confiar" é uma produção mediana, porém aborda este tema pertinente de forma notável, e por isso vale ser conferido.

Mas o que mais me surpreendeu foi a sensibilidade, a delicadeza e o cuidado com que o assunto referido acima foi tratado. E mais surpreendente ainda é notarmos que a produção se foca mais nas consequências da pedofilia, do que no próprio ato. Consequências estas, não físicas, porém psicológicas, capazes de arruinar a vida de uma garota e de seus pais! A trama aborda uma garota insegura (Annie) que, ao conhecer um rapaz pela internet (Charlie) decide marcar um encontro com o mesmo. Mas chegada a hora, ela percebe que Charlie na verdade é um pedófilo, que acaba por estuprá-la. E as consequências deste ato já citei acima.

Todavia, é este mesmo roteiro, que aplaudi pelo excelente modo de abordagem do tema, que possui um erro irritante: ele retrata os adolescentes de forma completamente estereotipada! As suas ações, seus trejeitos, suas maneiras de falar são clichês e desconfortantes.

Por outro lado, as atuações dos pais da vítima, Catherine Kenner e Clive Owen, são fantásticas, principalmente a deste último, onde nota-se uma completa evolução e lapidamento de um talento escondido, que começara a emergir somente em 2005, em "Closer - Perto Demais". E esta merece configurar entre suas três melhores performances. Porém, Liana Liberato, que dá vida a Annie, possui um desempenho controverso. Nos momentos de maior tensão e drama, Liberato se sai muito bem, e consegue inclusive arrepiar o espectador! Em contrapartida, nos momentos mais "suaves" do filme, tive a impressão de um certo relaxamento por parte da atriz, tornando sua interpretação vaga e superficial. Talvez isto seja somente uma impressão minha, mas de uma coisa tenho certeza: Liana Liberato possui uma carreira muito promissora pela frente!

O âmbito técnico é normal, eficaz, porém nada que mereça muito destaque nesta crítica.

E, para finalizar, a direção de David Shwimmer é esquecível e um tanto deslocada, como seu personagem na série "Friends".

Como disse anteriormente, é um filme regular, porém necessário e ouso até dizer que didático. Merece ser assistido por todos os pais, filhos e avós. Acima de um drama, é um filme feito para conscientizar o público, quebrar o tabu acerca deste assunto.

Gênero: Drama
Duração: 104 min.
Ano: 2010

325. Apollo 18

terça-feira, 6 de setembro de 2011
Postado por Selton Dutra Zen 2 comentários

(Mediano)

O principal mérito que espera-se de uma produção que adota a técnica handycam (ou mockumentary, como preferirem) é ser real. Transpirar verossimilhança. E é justamente neste ponto que "Apollo 18" fracassa, por ser um filme irreal, insípido e imaturo.

Irreal por em nenhum momento levar o espectador a acreditar em tudo aquilo que é apresentado na tela, ou mesmo sugar o público para dentro da trama. Isto se dá devido a uma edição fraquíssima, que se utiliza de exagerados cortes bruscos, cansativas deformações de imagem e principalmente, manipula o som ambiente de forma que este cause um desconforto imenso a quem o está assistindo. Esta trilha sonora, de certa forma diegética, ao invés de acrescentar mais emoção, acaba irritando e distanciando "Apollo 18" da crueza que pretendia alcançar.

O próprio roteiro que, concebido a partir de supostas gravações confidenciais da NASA, onde alienígenas teriam sido detectados na superfície lunar, se revela raso e pouquíssimo impactante. O enredo é explorado de forma ineficiente e pedestre, o que dificulta ainda mais acreditarmos, ou mesmo tomarmos as dores dos personagens. E o que dizer destes personagens? São mais vazios e desinteressantes que as próprias criaturas alienígenas, que por sua vez, são de uma falta de criatividade e preguiça mental imensuráveis! E, não obstante, o roteiro necessita apelar para sustos baratos e deslocados, tentando assustar o espectador a todo custo, mas fracassando em todas as tentativas.

Esta falta de realidade, além de exterminar o objetivo da técnica em si, ainda torna esta obra insípida! Todo o filme, mais especificamente em seu final, carece de emoção, seja ela tensão, choque ou até mesmo adrenalina. "Apollo 18" preserva, durante toda a sua projeção, cara de paisagem no público pagante.

Mas este filme não é de todo ruim! Pode até soar contraditório, mas algumas de suas cenas funcionam muito bem, como quando um dos astronautas decide explorar uma cratera da lua em busca de pistas sobre algo suspeito que encontraram na superfície da mesma, e para isto, ele utiliza um emissor de flashs para iluminar seu caminho, ou até mesmo quando o outro astronauta filma seu amigo dormindo na nave. Pena que essas cenas boas sejam minoria.

E, como disse no primeiro parágrafo, "Apollo 18" é imaturo. Imaturo por soar como um mero exercício de estilo falho por parte do diretor, estreante. Fica claro sua falta de competência ao ministrar esta produção. A edição, já comentada acima, com seus cortes errôneos e sua horrenda trilha sonora diegética, são provas concretas disto.

Para finalizar, em nenhum momento "Apollo 18" se torna inaturável ou torturante. Consegue nos manter atentos do início ao fim, mesmo que com expressões indiferentes de nossa parte!

Gênero: Ficção Científica
Duração: 87 min.
Ano: 2011

Cinefilia 16: O Cinema Novo de Glauber

sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Postado por Selton Dutra Zen 0 comentários


Glauber Rocha. O diretor mais controverso e polêmico do Brasil. Alcançou este destaque por dirigir filmes esdrúxulos, fora dos parâmetros do cinema brasileiro da época. Foi o principal, e na minha opinião, o melhor representante do Cinema Novo brasileiro, movimento cinematográfico que, basicamente, resgatava o Neo-realismo italiano, com sua crueza, ao passo que realizava fortes críticas ao governo da época. Tudo isto com um toque especial de filmes de arte! Glauber dedicou sua carreira à este movimento, o aprimorou e o evoluiu. Sendo assim, generalizo dizendo que, se uma pessoa não gosta de Glauber, não gosta do Cinema Novo!

Sim, adoro este diretor bahiano, não por estar em voga ultimamente, como algumas pessoas justificam, mas sim por considerar excelente a maior parte de seus filmes, por reconhecer e entender o Cinema Novo e, pessoalmente, por gostar do clima e do caráter revolucionário de suas obras. Seus filmes são tecnicamente surpreendentes! Os cortes absurdos, porém geniais, para a década de 60 (mesmo a Nouvelle Vague já tendo popularizado esse tipo de edição) são de cair o queixo! Seus roteiros condensavam perfeitamente tradição local, religião e política, de forma sem igual, sem cair no artificial ou falso moralismo! Sua fotografia que quase sempre optava pela câmera na mão, era eficaz, por conseguir acrescentar mais veracidade à trama. Todavia, tenho que reconhecer que Glauber Rocha está longe de ser um diretor impecável! Em alguns momentos se torna transparente para o espectador que Rocha se deixava levar pela sensação do momento e se focava excessivamente na técnica do filme e esquecia de uma outra parte importantíssima da obra: os atores. Em quase todos os seus filmes, os atores possuem desempenhos pavorosos, beirando ao cômico! E não me venham dizer que as atuações exageradas e artificias eram propositais, pois existe uma enorme diferença entre proposital e desproposital, uma diferença visível, e nas produções deste diretor, infelizmente, as interpretações horrendas não são propositais! Para lhes apresentar minha opinião em um parâmetro geral, irei analisar algumas de suas obras separadamente.

Em 1964, Glauber lançou "Deus e o Diabo na Terra do Sol", que considero o melhor filme brasileiro que já tive o prazer de assistir em toda a minha vida! TUDO, em letras garrafais, TUDO (com exceção dos atores) é excelente e se une de forma magistral para compor esta que considero ser a maior obra-prima do cinema brasileiro! Destaque, entre todos os elementos fabulosos, ao roteiro, edição, direção e trilha sonora. Esta última é usada de forma inteligente por Glauber para expor pontos da trama, apresentar personagens e para personificar o alter-ego do personagem principal. A importância de "Deus e o Diabo na Terra do Sol" é imensurável. Este foi o primeiro filme responsável por conceder fama ao diretor, além de nos apresentar à figura de Antônio das Mortes (o vilão desta produção), que mais tarde, em 1969, voltaria às telas.

Mas foi somente em "Terra em Transe", de 1967, que o Cinema Novo alcançou seu ápice dentro da carreira do diretor nordestino. As caraterísticas deste movimento aqui, são muito mais gritantes e explícitas, chegando ao ponto de serem adicionadas cenas aparentemente sem elo algum com a história, para somente ao final, ficarmos a par do porquê delas existirem. Aqui, a crítica ao governo é a mais escrachada possível, basta observarmos a trama, que aborda a política brasileira, sua podridão e suas consequências. E, apesar de isto ser extremamente escancarado ao espectador, em nenhum momento soa forçado ou piegas. Destaque novamente à edição, à direção e à fotografia.

"O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro", lançado em 1969, serviu como uma espécie de continuação de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", ao resgatar o personagem de Antônio das Mortes, nos possibilitando ver o outro lado da moeda. Se no filme de 64 o tínhamos como vilão, aqui, em "O Dragão da Maldade..." vemos o seu lado mais humano, sensível e heróico. Ótima trucagem de Glauber Rocha, pois permite uma maior desconstrução deste personagem. Neste filme, o destaque continua sendo para a edição, direção e trilha sonora, onde algumas músicas são resgatadas de "Deus e o Diabo...". Porém, o roteiro deixa um pouco a desejar, não afetando de forma muito significativa a qualidade deste filme, que por sua vez, é excelente!

Como disse no segundo parágrafo, considero quase todos os filmes do diretor em questão excelentes, com algumas exceções, como o curta-metragem, "Di Cavalcanti Di Glauber", de 1977, que foi lançado como uma homenagem ao pintor Di Cavalcanti, muito amigo do cineasta, porém se revela um curta desnecessário. Poderia permanecer no acervo particular do próprio diretor, somente como uma recordação pessoal de seu amigo. Desta vez, destaca-se somente a edição e fotografia. A trilha sonora é incompatível com o seu conteúdo e a direção é errônea. Bem mediano!

Enfim, você pode gostar ou não de Glauber Rocha, mas deve reconhecer que ele foi um diretor inventivo, revolucionário (positiva ou negativamente - dependendo de seu ponto de vista) e, acima de tudo, um homem preocupado com a nação brasileira. Até o próximo post!