338. Histórias Cruzadas

terça-feira, 31 de janeiro de 2012
Postado por Selton Dutra Zen 6 comentários


(Muito Bom)

Há cerca de um ano atrás, ao redigir um texto sobre o fraquíssimo "O Vencedor", comentei que um dos poucos pontos positivos do filme era o elenco, impecável, repleto de performances marcantes e merecedoras de Oscar. Naquele ano, "O Vencedor" foi indicado em inúmeras categorias, mas com reais chances de ganhar somente em duas: Ator e atriz coadjuvantes. A primeira era representada por Christian Bale e a segunda por Melissa Leo e Amy Adams (ocupando, obviamente, dois lugares dentre os cinco indicados na  categoria em questão, do Oscar 2011). Lembro-me que esta particularidade (a dupla indicação numa mesma categoria) me chamou a atenção. Pois bem, como esperado, os atores e atrizes concorrentes levaram a estatueta. Mas porque estou comentando um filme completamente distinto em uma análise de "Histórias Cruzadas"? Porque a situação praticamente se repete aqui, com a diferença de que este último é um ótimo longa, e que tem reais chances de levar o prêmio principal do Oscar para casa. Porém, o que se destaca mesmo, acima da história comovente e da ambientação interessante, é o casting excepcional.

Encabeçado por Viola Davis, em um desempenho que, para mim, supera sua performance em "A Dúvida", que seria capaz de carregar esta produção inteira nas costas, com sua habilidade de emocionar o público, além de conquistá-lo com seu carisma descomunal, felizmente é apoiada por outras figuras maravilhosas, como as duas indicadas ao prêmio de atriz coadjuvante (outra semelhança com "O Vencedor") também dão um show no que diz respeito à emoção e convencimento. Octavia Spencer, como uma das domésticas maltratadas, nos faz sentir na pele seu próprio drama (bem como acontece com Viola), além de nos divertir com seu despojamento em inúmeras sequências (cito a do "Eat my shit!", por exemplo).

E, para terem alguma noção do quão ofuscante é o elenco desta obra, já ia me esquecendo de comentar a história, bela e pertinente. Situada no início da década de 60, em Mississipi, "Histórias Cruzadas" acompanha o drama de duas empregadas domésticas negras, que carregam a dor da descriminação e do preconceito,  ao passo que auxiliam uma jornalista (branca) a escrever um livro sobre suas memórias, para escandalizar e fazer a sociedade de época pensar. A história em si possui momentos muito tocantes, e alguns outros cômicos. Todavia, isso tudo é ofuscado pela presença avassaladora das atrizes participantes. O que não necessariamente é um demérito. Pelo menos neste longa não soou como um defeito, mas sim como uma salvação, já que compensa a mediocridade do roteiro, que por sua vez, é um dos poucos pontos negativos neste filme. Alguns diálogos são artificiais e algumas caracterizações de personagem são forçadas ao extremo (como quando a vilã maltrata sua filha da forma mais falsa possível).

O âmbito técnico, embora eficiente, não merece tanto destaque. Os figurinos, associados à direção de arte, reconstituem bem a época ambientada, porém, a fotografia, que opta, exageradamente, por cores quentes demais, não me agradou por completo. A trilha sonora surge mais como um apoio para preencher os momentos sem diálogos, ou mesmo para ligar uma cena a outra, do que como um elemento funcional. Não transmite emoção alguma, e, sequer, realça um sentimento. É completamente indiferente e dispensável.

Assim, a pergunta que paira no ar é se um filme pode se sustentar apenas com um excelente casting, um argumento relevante e mais meia dúzia de pontos positivos, e ainda assim ser um bom exemplar? A minha resposta seria que não, muito mais elementos da obra deviam estar em sintonia para alcançar um patamar melhor, porém, este filme é uma exceção. É muito bom e carregado quase que completamente pelo elenco. E a comprovação da qualidade dos atores e atrizes envolvidos veio com o prêmio de Melhor elenco, do Screen Actors Guild Awards, ter sido concedido à "Histórias Cruzadas".

Gênero: Drama
Duração: 146 min.
Ano: 2011

Cinefilia 17: Oscar 2012 - Os Indicados

terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Postado por Selton Dutra Zen 0 comentários


Nesta terça-feira (24/01) foram revelados os indicados a 84ª premiação do Oscar. E, como já previa, por 2011 ter sido um ano medíocre em suas estreias cinematográficas mundiais, os indicados também não chamaram muito a atenção, com exceção de alguns casos em específico. Além disso, me surpreendi com alguns concorrentes. A começar pelo excelente e injustiçado "Melancolia", que, merecedor de, no mínimo, 3 indicações (filme, diretor e atriz), acabou sendo excluído completamente e saiu de mãos abanando. Também gostaria de ver Owen Wilson na categoria de melhor ator, porém a decepção neste caso foi menor, pois "Meia-Noite em Paris" angariou um número considerável de nomeações. Por outro lado, "Carros 2" ter ficado de fora da categoria de melhor animação talvez tenha sido, para mim, uma das grandes surpresas positivas do evento. 

Abaixo, segue a lista completa dos indicados ao Oscar 2012 que, por sinal, acontecerá dia 26/02. Até lá, assistam as produções e façam suas apostas!

MELHOR FILME:

"O Artista"
"A Invenção de Hugo Cabret"
"Histórias Cruzadas"
"A Árvore da Vida"
"Meia-Noite em Paris"
"Os Descendentes"
"O Homem que Mudou o Jogo"
"Cavalo de Guerra"
"Tão Forte e Tão Perto"

MELHOR DIRETOR:

Martin Scorsese
Woody Allen
Terrence Malick
Michel Hazanavicius
Alexander Payne

MELHOR ATOR:

Demian Bichir ("A Better Life")
Brad Pitt ("O Homem que Mudou o Jogo")
George Clooney ("Os Descendentes")
Gary Oldman ("O Espião que Sabia Demais")
Jean Dujardin ("O Artista")

MELHOR ATRIZ:

Glenn Close ("Albert Nobbs")
Meryl Streep ("A Dama de Ferro")
Viola Davis ("Histórias Cruzadas")
Michelle Williams ("Sete Dias com Marilyn"
Rooney Mara ("Millenium - Os Homens que não Amavam as Mulheres")

MELHOR ATOR COADJUVANTE:

Kenneth Branagh ("Sete Dias com Marilyn")
Max Von Sydow ("Tão Forte e Tão Perto")
Christopher Plummer ("Toda Forma de Amor")
Jonah Hill ("O Homem que Mudou o Jogo")
Nick Nolte ("Guerreiro")

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE:

Bérénice Bejo ("O Artista")
Jessica Chastain ("Histórias Cruzadas")
Melissa McCarthy ("Missão Madrinha de Casamento")
Octavia Spencer ("Histórias Cruzadas")
Janet Mcteer ("Albert Nobbs")

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL:

"Meia-Noite em Paris"
"Missão Madrinha de Casamento"
"O Artista"
"A Separação"
"Margin Call"

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO:

"Os Descendentes"
"A Invenção de Hugo Cabret"
"O Homem que Mudou o Jogo"
"Tudo Pelo Poder"
"O espião que Sabia Demais"

MELHOR FILME ESTRANGEIRO:

"A Separação"
"Bullhead"
"Mounsieur Lazhar"
"Footnote"
"In Darkness"

MELHOR ANIMAÇÃO:

"Um Gato em Paris"
"Kung Fu Panda 2"
"Chico e Rita"
"Gato de Botas"
"Rango"

MELHOR TRILHA SONORA:

"As Aventuras de Tintim"
"O Artista"
"O Espião que Sabia Demais"
"A Invenção de Hugo Cabret"
"Cavalo de Guerra"

MELHOR CANÇÃO:

"Man or Muppet" ("Os Muppets")
"Real in Rio" ("Rio")

MELHORES EFEITOS VISUAIS:

"Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2"
"A Invenção de Hugo Cabret"
"Gigantes de Aço"
"Transformers - O Lado Oculto da Lua"
"Planeta dos Macacos - A Origem"

MELHOR MAQUIAGEM:

"Albert Nobbs"
"A Dama de Ferro"
"Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2"

MELHOR FOTOGRAFIA:

"O Artista"
"Millenium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres"
"A Árvore da Vida"
"Cavalo de Guerra"
"A Invenção de Hugo Cabret"

MELHOR FIGURINO:

"Anônimo"
"O Artista"
"A Invenção de Hugo Cabret"
"Jane Eyre"
"W.E"

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE:

"O Artista"
"Harry Potter e as Relíquias da Morte Parte 2"
"A Invenção de Hugo Cabret"
"Cavalo de Guerra"

MELHOR MONTAGEM:

"Os Descendentes"
"O Artista"
"Millenium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres"
"A Invenção de Hugo Cabret"
"O Homem que Mudou o Jogo"

MELHOR EDIÇÃO DE SOM:

"Drive"
"Millenium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres"
"Cavalo de Guerra"
"A Invenção de Hugo Cabret"
"Transformers - O Lado Oculto da Lua"

MELHOR MIXAGEM DE SOM:

"Millenium - Os Homens que Não Amavam as Mulheres"
"A Invenção de Hugo Cabret"
"Cavalo de Guerra"
"O Homem que Mudou o Jogo"
"Transformers - O Lado Oculto da Lua"

MELHOR DOCUMENTÁRIO:

"Hell and Back Again"
"Pina"
"If a Tree Falls"
"Paradise Lost 3"
"Undefeated"

MELHOR CURTA-METRAGEM DE DOCUMENTÁRIO:

"God is The Bigger Elvis"
"The Barber of Birmingham"
"Incident in New Baghdad"
"Saving Face"
"The Tsunami and the Cherry"
"Blossom"

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO:

"Dimanche"
"La Luna"
"The Fantastic Flying Books os Mister Morris Lessmore"
"A Morning Stroll"
"Wild Life"

MELHOR CURTA-METRAGEM:

"Pentecost"
"Raju"
"The Shore"
"Time Freak"
"Tuba Atlantic"

337. Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras

sábado, 21 de janeiro de 2012
Postado por Selton Dutra Zen 0 comentários


(Ruim)

De início, estava receoso que este fosse mais um longa repetidor do estilo Guy Ritchie de fazer cinema. Porém, logo quando a produção se iniciou, me lembrei de que o ótimo "Sherlock Holmes" representava uma mudança na fórmula batida do realizador, assim, confesso que fiquei esperançoso em ver algo divertido, inteligente e um tanto inovador, como seu antecessor foi. Mas, que decepção! Apesar de utilizar a mesma estética do primeiro, este "Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras" emprega as inovações e a forma do filme de 2009 e a destrói absurdamente nesta porcaria que, sem dúvidas, merece ser taxada como o pior filme do diretor!

A narração em off, além de enjoativa, é muito mal utilizada. A fotografia abusa da escuridão, na tentativa de acrescentar obscuridade à trama, conseguindo, somente, deixar o espectador desnorteado em inúmeras cenas. E a tão famosa câmera lenta... bom, basta dizer que neste longa, ela se torna didática, por constituir, involuntariamente, um manual de como NÃO se empregar o slow motion em um filme. Isto, claro, é culpa da péssima edição e da própria direção horrorosa de Ritchie, que, não obstante em denegrir a imagem de uma nova estética que estava tentando certeiramente criar, ainda consegue a proeza de transformar um ótimo roteiro inteligente e criativo, em algo completamente desinteressante e, principalmente, maçante, o que acaba encobrindo uma trama, no mínimo, promissora, com firulas exacerbadas e uma falta de objetividade tremenda. Este talvez (ou melhor, com certeza) tenha sido o grande erro deste filme. 

Obviamente, não estou defendendo que o roteiro aqui seja impecável. Possui seus erros, como os trejeitos irritantes e exagerados de Sherlock (algo bem mais contido na produção de 2009), que acaba, por ventura, associando o personagem à pior fase da persona de Jack Sparrow (que acontece no 4º filme), onde ambos denotam serem bêbados idiotas, ao contrário de pessoas astutas, como deveriam aparentar. Além disso, algo interessante de se notar é que em "Sherlock Holmes", tudo era mais divertido, leve e fluído, mesmo que quase ausente de piadas recorrentes. Porém aqui, nesta continuação, apesar de possuir diversos momentos de alívio cômico, o filme acaba caindo no monótono em incontáveis sequências, além de não entreter, mas incomodar o público pagante. O porquê desta ironia? A resposta é simples: o script peca mais uma vez ao inserir piadas falhas e alívios cômicos repetitivos, que cansam e enojam o espectador. Todavia, estes erros se tornam pecadilhos, se comparado à péssima direção, já comentada acima.

Tudo isso faz de "Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras" um filme ruim, porém esquecível, o que é um grande alívio, tendo em vista que não gostaria de ter esta decepção gravada em minha mente. Ainda quero associar o nome do realizador à obras muito mais consistentes e consideráveis como os ótimos "Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes", "Snatch", o próprio antecessor deste longa comentado aqui, além de alguns outros títulos que fazem, pelo menos, o espectador relaxar e se entreter. 

Gênero: Ação
Duração: 129 min.
Ano: 2011