356. Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge

domingo, 29 de julho de 2012
Postado por Selton Dutra Zen 0 comentários


(Excelente)

Após um hiato de 8 anos, Christopher Nolan resolveu por resgatar o notório herói da DC Comics e adicionar uma nova roupagem a este. Assim, o diretor inglês quebrou o estigma imaturo e infantiloide empregado por Burton, ou a imbecilidade de Schumacher e inseriu o homem-morcego em um mundo caótico, auto-destrutivo e verossímil, com "Batman Begins" (do qual, confesso, não sou muito fã, embora simpatize). A trilogia, então, se seguiu com a obra-prima máxima de Nolan e um dos filmes de super-herói mais fantásticos que já conferi em minha vida, "Batman - O Cavaleiro das Trevas". Este sim, irretocável, impactante e cruel. E, em decorrência da qualidade de seu antecessor, esperava-se que esta continuação, que entra em cartaz esse fim de semana, não decepcionasse, seja para dar continuidade ao nível do anterior, ou pelo simples fato de ser o fechamento da trilogia. Felizmente, posso afirmar que este mais novo longa de Nolan não deixa a desejar em momento algum.

Carregando, talvez, a trama mais melancólica e grandiosa de todos os três filmes, "The Dark Knight Rises" nos remete, logo em suas primeiras cenas, a um Batman deteriorado, machucado e beirando a depressão. Após os incidentes do filme de 2009, o herói se isolou do mundo exterior em sua mansão. Todavia, a chegada de um maníaco - Bane - que pretende destruir Gotham City inicia uma onda de terror na cidade. Resta ao super-poderoso combate-lo. Além, claro, de enfrentar a imagem negativa que a imprensa havia criado dele e até mesmo a polícia que, incansavelmente, o persegue. Esta sub-trama de inserir Batman como uma figura injustiçada serve como uma luva para a narrativa de toda a trilogia, e acaba se tornando - pelo menos a mim - um de seus pontos mais fortes. O modo como Nolan e seus outros roteiristas expõem e de certa forma criticam o poder da mídia é admirável (desconheço se nas HQs do herói isto também acontece. Estou levando em conta unicamente o lado cinematográfico do personagem, já que sou leigo quando o assunto é Graphic Novels) e só contribui ainda mais para a construção do mundo deturpado de Gotham. 

Por outro lado, mesmo a trama possibilitando uma melhor exploração e aprofundamento que o filme anterior (mais ampla, com mais personagens), ela acaba não sendo tão levada a fundo pelo roteiro, que se foca mais no todo (o problema central, a cidade, os vilões e o herói) ao invés das partes (a incursão por cada personagem em particular). Todavia, Nolan perdoa este demérito (se é que pode-se considerar assim) ao criar imagens fortes, impactantes e emotivas. Alguns momentos são brilhantemente tensos e outros muito emocionantes. Além de continuar optando pela linha do "quanto mais, melhor", ao se utilizar de angulações triunfantes, falas marcantes, montagem expressiva e auto-confiança absoluta em cada cena que filma. Christopher, vale ressaltar, já se afirmou (pelo menos a mim) como um dos grandes nomes do cinema comercial atual. Mesmo fazendo filmes para vender, ele consegue deixar sua marca, seu cuidado e agradar desde os cinéfilos mais céticos, até o espectador mais alienado. 

Contudo, mesmo com a direção confiante e confiável de Nolan, diversos fãs e admiradores da trinca estavam receosos de que o filme perdesse muito de sua força por não possuir o antológico papel de Heath Ledger. Certo que o Coringa do ator falecido é, de longe, o personagem mais sublime, complexo e perturbador de todos os longas do Homem-Morcego (não só das versões de Nolan) e dificilmente algum outro ator conseguirá dar vida tão perfeitamente a uma personalidade tão distante da realidade quanto Ledger conseguiu. Porém, mais uma ótima notícia aos preocupados: Tom Hardy encarna o poderoso Bane de forma precisa, esforçada e admirável, principalmente no que diz respeito ao seu trabalho de voz. É tão bom quanto o vilão mor do filme antecedente? Não, evidente que não. Mas ainda assim desempenha um trabalho digno de respeito ao conseguir assustar e impressionar o espectador com sua imponência, grandiosidade e frieza.  

Além do mais, não é só Hardy que está muito bem, mas o resto do elenco é também  merecedor de elogios. Christian Bale - ator que anda evoluindo muito nos últimos anos - está contido como Bruce Wayne e extravagante como Batman, do modo como deveria ser. Marion Cotillard, como já era de se esperar, cumpre muito bem o papel que lhe é designado. O veterano Gary Oldman destaca seu personagem (comissário Gordon) que em outras mãos correria o risco de cair no genérico. Michael Caine desempenha cenas de forte carga emocional e obtém êxito em cada minuto. Anne Hathaway, por sua vez, está carismática, prepotente e linda, como uma verdadeira Mulher-Gato deve ser. E se aos citados anteriormente, só tenho elogios, de Joseph Gordon-Levitt e Morgan Freeman há alguns pontos a se questionar. Freeman está o cúmulo do genérico e por isso acaba destoando de um casting tão bem sintonizado. Já Gordon-Levitt talvez não esteja em um papel correto. Seu perfil físico e até mesmo seu rosto, não corroboram para criar a imagem de um policial e sua performance muitas vezes passa essa  mesma sensção. Ele, portanto, acaba soando falso, embora não comprometa o longa. 

Já no âmbito técnico, "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge" é deslumbrante. Os efeitos visuais são estonteantes (prevejo uma indicação ao Oscar nesta categoria) - basta tomar como exemplo a cena da explosão do campo de futebol americano. A maquiagem (principalmente de Tom Hardy) é verossímil e minimalista. Para completar, a mixagem e a edição de som são impactantes, pertinentes e acertadas e só contribuem ainda mais para ressaltar os méritos da direção de Nolan.

Assim, se a força de "O Cavaleiro das Trevas" se encontrava em duas mãos (Ledger e Nolan), este mais novo exemplar da obra do realizador está órfão de uma das partes, mas concentra seu trunfo primordialmente no elemento disponível: Christopher - que não falha. A cada novo filme, o cineasta se engrandece e nos oferece trabalhos mais maduros. E este novo Batman é mais um exemplo disso. Deve agradar boa parte do público, já que possui ótimas sequências de ação e tensão (vide o terceiro ato espetacular), mas também àqueles que procuram algo a mais, além de explosões e destruição. Afinal, este é o grande diferencial de Batman em relação a "Os Vingadores" (os dois maiores e mais notórios filmes de super-heróis do ano). Enquanto o longa do grupo de heróis da Marvel é apenas uma fraca casca de ação vaga, os do Batman têm algo mais a oferecer, algo além da carcaça, além das sequências de ação. Como costumo dizer, não sou fã de Batman ou de Nolan, mas sim da trilogia que ele criou sobre o Homem-Morcego, um exemplo a ser seguido por outros blockbusters por aí. 

Gênero: Ação
Duração: 163 min.
Ano: 2012