(Ruim)
"Cavalo de Guerra", mais novo trabalho do decadente Spielberg, se inicia com uma sequência absurdamente clichê do cavalo nascendo. Essa mesma "criatividade" (ou falta dela, melhor dizendo) perdurará durante todo o filme, principalmente em seu final, tão melodramático e artificial, que quase se assemelha a uma novela mexicana.
Abordando a história de amizade entre um rapaz e seu cavalo (inicialmente inútil), este longa pode ser dividido em duas partes principais: A primeira compreende a relação do animal e do garoto e a segunda, a guerra.
A parte inicial (mais especificamente, os 40 primeiros minutos) é pavorosa. O companheirismo do humano para com o cavalo é retratado da pior forma possível, enquanto o roteiro medonho abusa de frases infantiloides e preguiçosas, como "Ele é um cavalo especial" ou "Ele conseguiu! Ele conseguiu!". Além, claro, da insistência dos roteiristas em acrescentar falas no diminutivo ao garoto ("Eu vou ensiná-lo DIREITINHO"), numa tentativa frustrada de empregar um tom mais inocente à narrativa, conseguindo, somente, se tornar nada mais que ridículo.
E é difícil acreditar que o mesmo diretor de obras-primas inexoráveis como "Jurassic Park", "A Lista de Schindler" e "A Cor Púrpura", tenha realizado um trabalho de direção tão ruim quanto este aqui. Chega a espantar sua inabilidade ao selecionar as passagens que permanecerão após a edição final. A prova concreta disto é a quantidade exorbitante de cenas desnecessárias e absurdas, como a da multidão que surge do nada somente para apoiar a tentativa do rapaz de ensinar o cavalo a arar o solo.
Já a segunda parte (dos 40 minutos ao final) melhora um pouco. Com a separação dos amigos, a trama acaba deixando de lado a péssima constituição da amizade da dupla e passa a se focar, quase que exclusivamente, nas desventuras do cavalo durante a 2ª Guerra Mundial. Os diálogos bestas ainda continuam ("Ele é um CAVALO DE GUERRA!"), porém, em menor número. Mas, o que torna esta passagem melhor que sua antecessora é a presença de algumas cenas realmente interessantes e funcionais. Nesta categorização, se enquadram as sequências de guerra ou mesmo a impressionante fuga do cavalo por entre as trincheiras inimigas. E nesses momentos, a direção de Spielberg melhora consideravelmente, por realizar cenas conciliando, eficazmente, fotografia, efeitos e mise-èn-scene, que acaba, de certa forma, perdoando alguns dos erros grotescos que o realizador mantinha inicialmente, o que não quer dizer que, em um saldo geral, seu desempenho tenha sido positivo.
Agora, se há algum elemento neste filme que mereça louvores, é o âmbito técnico, quase que impecável. A fotografia é excelente, ao optar por ângulos e iluminações corretos(as), nos momentos oportunos, sem abandonar o requinte em minuto algum. Os efeitos visuais são deslumbrantes (principalmente na criação do cavalo computadorizado) e ressaltados pela ótima edição de som, poderosa e minimalista. A montagem também é muito boa, por, pelo menos, tentar acrescentar um ritmo aturável a este filme. Porém, sem o auxílio do script e do diretor, essa tarefa fica muito difícil. Quase impossível, eu diria.
Não obstante, durante a projeção, ficava me questionando se a intenção de Steven Spielberg era criar uma obra infantil ou destinada a todas as idades. Se fosse infantil, alguns dos deméritos poderiam ser relevados e "Cavalo de Guerra" conseguiria alcançar o patamar de regular. Infelizmente, cheguei a conclusão de que a intenção era a segunda opção, a de filmar uma história bonita e simples, porém, o modo como o realizador decadente apela para situações forçadas ao extremo, deixa claro que falhou vorazmente. E, se alguns afirmam que o pior exemplar da atualidade de um dos mais notórios diretores da história é o quarto filme da série "Indiana Jones", eu digo que "War Horse" é milhares de vezes inferior. Espero me surpreender com "As Aventuras de Tintim" e que esta produção que comento neste texto marque o fim da onda de obras ruins e medianas de Steven e o início da maré de bons e ótimos filmes de um diretor que, acredito eu, saturou, perdeu a habilidade de dirigir blockbusters antológicos e dramas atamente reflexivos, como costumava fazer.
Gênero: Drama/Aventura
Duração: 146 min.
Ano: 2011
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