345. Cavalo de Guerra

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
Postado por Selton Dutra Zen


(Ruim)

"Cavalo de Guerra", mais novo trabalho do decadente Spielberg, se inicia com uma sequência absurdamente clichê do cavalo nascendo. Essa mesma "criatividade" (ou falta dela, melhor dizendo) perdurará durante todo o filme, principalmente em seu final, tão melodramático e artificial, que quase se assemelha a uma novela mexicana.

Abordando a história de amizade entre um rapaz e seu cavalo (inicialmente inútil), este longa pode ser dividido em duas partes principais: A primeira compreende a relação do animal e do garoto e a segunda, a guerra. 

A parte inicial (mais especificamente, os 40 primeiros minutos) é pavorosa. O companheirismo do humano para com o cavalo é retratado da pior forma possível, enquanto o roteiro medonho abusa de frases infantiloides e preguiçosas, como "Ele é um cavalo especial" ou "Ele conseguiu! Ele conseguiu!". Além, claro, da insistência dos roteiristas em acrescentar falas no diminutivo ao garoto ("Eu vou ensiná-lo DIREITINHO"), numa tentativa frustrada de empregar um tom mais inocente à narrativa, conseguindo, somente, se tornar nada mais que ridículo.

E é difícil acreditar que o mesmo diretor de obras-primas inexoráveis como "Jurassic Park", "A Lista de Schindler" e "A Cor Púrpura", tenha realizado um trabalho de direção tão ruim quanto este aqui. Chega a espantar sua inabilidade ao selecionar as passagens que permanecerão após a edição final. A prova concreta disto é a quantidade exorbitante de cenas desnecessárias e absurdas, como a da multidão que surge do nada somente para apoiar a tentativa do rapaz de ensinar o cavalo a arar o solo.

Já a segunda parte (dos 40 minutos ao final) melhora um pouco. Com a separação dos amigos, a trama acaba deixando de lado a péssima constituição da amizade da dupla e passa a se focar, quase que exclusivamente, nas desventuras do cavalo durante a 2ª Guerra Mundial. Os diálogos bestas ainda continuam ("Ele é um CAVALO DE GUERRA!"), porém, em menor número. Mas, o que torna esta passagem melhor que sua antecessora é a presença de algumas cenas realmente interessantes e funcionais. Nesta categorização, se enquadram as sequências de guerra ou mesmo a impressionante fuga do cavalo por entre as trincheiras inimigas. E nesses momentos, a direção de Spielberg melhora consideravelmente, por realizar cenas conciliando, eficazmente, fotografia, efeitos e mise-èn-scene, que acaba, de certa forma, perdoando alguns dos erros grotescos que o realizador mantinha inicialmente, o que não quer dizer que, em um saldo geral, seu desempenho tenha sido positivo.

Agora, se há algum elemento neste filme que mereça louvores, é o âmbito técnico, quase que impecável. A fotografia é excelente, ao optar por ângulos e iluminações corretos(as), nos momentos oportunos, sem abandonar o requinte em minuto algum. Os efeitos visuais são deslumbrantes (principalmente na criação do cavalo computadorizado) e ressaltados pela ótima edição de som, poderosa e minimalista. A montagem também é muito boa, por, pelo menos, tentar acrescentar um ritmo aturável a este filme. Porém, sem o auxílio do script e do diretor, essa tarefa fica muito difícil. Quase impossível, eu diria.

Não obstante, durante a projeção, ficava me questionando se a intenção de Steven Spielberg era criar uma obra infantil ou destinada a todas as idades. Se fosse infantil, alguns dos deméritos poderiam ser relevados e "Cavalo de Guerra" conseguiria alcançar o patamar de regular. Infelizmente, cheguei a conclusão de que a intenção era a segunda opção, a de filmar uma história bonita e simples, porém, o modo como o realizador decadente apela para situações forçadas ao extremo, deixa claro que falhou vorazmente. E, se alguns afirmam que o pior exemplar da atualidade de um dos mais notórios diretores da história é o quarto filme da série "Indiana Jones", eu digo que "War Horse" é milhares de vezes inferior. Espero me surpreender com "As Aventuras de Tintim" e que esta produção que comento neste texto marque o fim da onda de obras ruins e medianas de Steven e o início da maré de bons e ótimos filmes de um diretor que, acredito eu, saturou, perdeu a habilidade de dirigir blockbusters antológicos e dramas atamente reflexivos, como costumava fazer.

Gênero: Drama/Aventura
Duração: 146 min.
Ano: 2011

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