340. O Artista

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Postado por Selton Dutra Zen


(Excelente)

Logo em sua primeira cena, "O Artista" mostra a que veio. Unificando, esplendorosamente, referências inteligentes à filmes mudos e das décadas de 20 e 30, com uma trilha sonora marcante, este mais novo longa mudo acaba se revelando uma forte crítica ao sistema hollywoodiano, ao mesmo tempo que uma grande homenagem ao mesmo.  

Ambientado na época de transição dos filmes mudos para os falados, Jean Dujardin interpreta um galã que tem sua vida arruinada quando se nega a migrar para a nova tecnologia crescente, ao passo que vive um romance cheio de altos e baixos com uma atriz (Berenice Bejo) que conheceu em um de seus filmes. Mas não vá assistir a esta obra belíssima esperando uma comédia à la Chaplin ou Keaton, pois conforme os minutos vão se passando, a produção vai se tornando cada vez mais densa e dramática, com personagens depressivos, descontentes e tendenciosos ao suicídio. Porém, mesmo sob esta atmosfera pesada e sufocante, o filme ainda consegue apresentar beleza em inúmeras passagens. Isso tudo, claro, é mérito de Michel Hazanavicius, diretor corajoso e competente que, embora possua somente três exemplares em sua filmografia, denota a experiência de um veterano! Seu controle sobre a produção é admirável.

Além disso, é valido também ressaltar a qualidade técnica do filme. A começar pela ambientação extraordinária de época, com figurinos precisos, maquiagens acertadas e uma direção de arte minimalista. A fotografia também é outro elemento a se louvar. Mescla, certeiramente, iluminações e angulações recorrentes nas décadas homenageadas, com outras mais atuais, criando um requinte e uma verossimilhança invejáveis. Assim, se algo fica transparente no âmbito comentado neste parágrafo é que os envolvidos tentam, a todo custo, recriar uma época. E, sim, eles obtêm êxito!

Não só os elementos citados acima reconstituem os anos 20 e 30, mas também as performances, aparentemente exageradas e caricatas demais, resgatam o modo de desempenho interpretativo de antigamente, ao passo que homenageiam grandes astros da 7ª arte. Dujardin está fenomenal, enquanto Bejo desempenha seu papel de forma eficiente, porém não muito destacável (não entendi sua indicação ao Oscar). As pontas de atores americanos, como James Cromwell e Malcom McDowell, também foram muito bem empregadas.

E, por fim, andei notando que, em diversos meios de comunicação e em redes sociais, surge uma discussão acerca de que "O Artista" possa estar utilizando-se de referências e de supostas homenagens para mascarar sua ineficiência ou seus deméritos. Bem, eu discordo. Apesar de todas as referências, o filme possui muitos pontos positivos e consegue caminhar com as próprias pernas, sem necessitar se apoiar em grandes clássicos do cinema.

Gênero: Comédia/drama
Duração: 100 min.
Ano: 2011