339. A Separação

sábado, 4 de fevereiro de 2012
Postado por Selton Dutra Zen


(Excelente)


"A Separação" é um filme ousado logo em seus primeiros minutos de projeção, trazendo à tona a questão do divórcio no Irã. E, felizmente, as ousadias não param por aí. O roteiro desta obra excepcional é de uma profundidade invejável. Constrói personagens ambíguos e cativantes, ao passo que realiza críticas ferrenhas a instituições (sejam elas, o casamento, a religião, a política e os costumes) iranianas.

A história gira em torno de uma família, Nader – o pai, Simin – a mãe e Termeh – a filha, cuja matriarca decide sair da cidade por uma oportunidade de promoção em seu emprego. Como os outros dois membros da família não concordam, ela decide optar pelo divórcio e seguir sua própria vida. Uma vez que Simin sai de casa, Nader precisa reformular sua vida, e o primeiro passo seria contratar uma empregada para cuidar de seu pai, vítima de Alzheimer, enquanto está trabalhando. Porém, a serviçal contratada, Razieh, logo desencadeia uma briga com Nader, que por sua vez, acaba enxotando a empregada de sua casa. Mas o fato é que Razieh estava grávida e acaba perdendo seu bebê. Ela, junto de seu marido Hodjat alegam que Nader a fez abortar. Assim, se inicia uma disputa jurídica entre os dois casais.

Nader, Simin, Razieh e Hodjat são os quarto personagens-chave abordados pelo filme. E o script os aprofunda de uma forma admirável. A matriarca da família surge como uma figura indecisa, se deseja confiar na versão de seu marido acerca do ocorrido, ou se prefere se colocar imparcial à questão. Isso é contraposto pelo patriarca, obviamente, alegando sua inocência desde o início. Mas quem sofre na verdade é a filha do casal, que observa o psicológico de seus pais, bem como sua própria família, se desmantelando devido à pressão dos acusadores. Razieh, de início aparenta ser uma pessoa humilde e disposta, mas que, com o tempo vai se revelando capaz de tudo para conseguir o que deseja. E seu marido, é apenas um sujeito impulsivo que confia plenamente em sua cônjuge. Mas as coisas não são tão simples quanto parecem. A complexidade é muito maior. Utilizando-se da proposta de "Os fins justificam os meios", "A Separação" vai muito mais além do que o aprofundamento considerável das personagens. Com seu script voraz, a obra manipula a cabeça do próprio espectador, como em uma brincadeira, contrapondo fatos e suposições da melhor maneira possível, concedendo a culpa, hora para os acusados, ora para os acusadores. E isto, no fim das contas, acaba por manter o público interessado até os créditos finais, que, por obséquio, surgem após uma cena maravilhosa, que só comprova o modo como o roteiro brinca com os que acompanham o longa.

Além disso, a excelência não se dá somente no âmbito teórico, mas também no técnico. A ótima fotografia, em sua maior parte com câmeras na mão, acrescenta um tom certeiramente ágil que, aliada a montagem e a edição, rápida e brusca, respectivamente, impõe um tom urgente à narrativa igualmente apressada.

Por fim, "A Separação" vencerá na categoria mais óbvia da noite, a de filme estrangeiro, e espero também que leve o prêmio de melhor roteiro, pela sua ousadia (insisto) e pela sua tamanha complexidade. Excelente filme! 

Gênero: Drama
Duração: 122 min.
Ano: 2011

1 comentários:

Daniel Chagas disse...

Vou assistir assim que der, parece ser excelente mesmo, gosto de tramas complexas assim, e é bom mostrar um pouco pro Ocidente cegueta como é a vida no Oriente. E belíssima análise a sua, como sempre!