330. A Árvore da Vida

sábado, 22 de outubro de 2011
Postado por Selton Dutra Zen

(Muito bom)

P.S: Este post contém spoilers!

Os dois filmes mais esperados pelos cinéfilos deste ano são completamente paradoxais. "Melancolia", de Lars Von Trier, é extremamente pessimista, enquanto "A Árvore da Vida", de Terrence Malick, é absolutamente o oposto! Se caracteriza por ser otimista e crente de que a vida é linda, basta olharmos com outros olhos ao nosso redor. Com olhos livres das coisas mundanas, livres do materialismo exacerbado, livres de todo preconceito e injúria. Com um olhar centrado no Divino, certo de que Ele, somente Ele é capaz de conceder a redenção. Redenção esta, que, em uma visão macro, acaba se tornando a ideia central, o objetivo pelo qual todos os personagens recorrem involuntariamente.

Aqui, Terrence Malick propõe que a natureza nada mais é que a personificação de Deus, e acredita incondicionalmente que somos perfeitamente capazes de conviver em harmonia com o natural e, consequentemente, com o Criador. Basta notar que, quando os personagens recebem a notícia devastadora da morte de um de seus filhos, eles procuram caminhar e se acalmar em um bosque. Mas a ironia se dá quando os mesmo clamam por Deus. Eles vivem em contato com Ele, mas não O conseguem enxergar. E, a partir deste momento eles necessitam da redenção Divina para poderem descobrir a verdadeira morada do Pai. E esta descoberta se dá em uma cena de um lirismo inquestionável!

Seria errôneo afirmar que este é o filme mais intimista de Malick, até porque todas as suas obras o são, porém, sem sombra de dúvidas, este é o mais belo, poético e pessoal dentre os filmes de sua filmografia. Sua direção e seu roteiro são de uma singeleza ímpar. Este último, aliás, narra o cotidiano de uma família de classe média norte americana, comandada por um pai repressor e autoritário (Brad Pitt), uma mãe zelosa e afetuosa e três filhos com caráteres completamente distintos um do outro. Um (o mais velho) é rebelde, outro é completamente fiel ao primogênito e o terceiro mais tarde morrerá (fato que é mostrado em 5 minutos de projeção). Assim, acompanhamos o amadurecimento não só dos filhos do casal, mas também do casal em si, tendo que lutar contra males internos, como crises familiares, seu filho rebelde, etc..., ou externos, como o desemprego, a venda da casa, entre outros tantos imprevistos que a vida nos reserva, ao passo que somos arrematados pelas consequências das atitudes reprováveis do filho primogênito rebelde, quando ele, já adulto (interpretado por Sean Penn), se arrepende das coisas que fez na infância e se torna uma pessoa infeliz. Isto tudo pautado por uma discussão não biológica, mas sim poética da evolução da Terra e de tudo que nela habita. Acompanhamos o nosso planeta se formando, os dinossauros, os animais primatas, até passarmos pelo presente e assistirmos ao fim dos tempos, no futuro.

E todas estas cenas paralelas ao drama central são de uma extrema beleza, de um rigor imagético invejáveis. Que pautados pela trilha sonora de muito bom gosto, criam algumas das melhores cenas dirigidas pelo diretor estadunidense.

Mas, apesar de os temas centrais serem bem diferentes, consegui notar inúmeras semelhanças entre "Melancolia" e "A Árvore da Vida", como o balé da evolução humana, que citei acima (no caso do filme de Von Trier, seria o balé da destruição), ou até o elenco.

Se no filme-catástrofe do dinamarquês quem me surpreendeu e se superou dentre os atores/atrizes foi Kristen Dunst, aqui quem se supera é Brad Pitt, que apesar de ter desempenhado uma excelente performance em "Bastardos Inglórios" e "O Curioso Caso de Benjamin Button", aqui acrescenta algo de especial em sua interpretação. Deixa de lado o caráter caricato do tenente louco do filme de Tarantino e o tom fantasioso do filme de David Fincher para dar vida à um pai comum, de uma família comum, agindo comumente (para os parâmetros da época). Já Sean Penn poderia estar melhor se tivesse dado tudo de si, como o excelente ator que é.

Como disse em alguns parágrafos acima, o lado imagético desta obra é invejável. Isto se dá, principalmente, por uma fotografia minimalista, que capta muito bem a essência das locações onde filma. Por falar em locações, a direção de arte recria de forma admirável a casa onde a história irá se desenrolar, essencialmente. Os efeitos visuais deixam a desejar, porém isto é um pormenor, tendo em vista que o foco do filme não é este.

Quando os créditos finais subiram, cheguei a conclusão de que, apesar de levantar várias questões acerca de Deus, "A Árvore da Vida" é um filme feito para ateus e pessoas que acreditam na existência de uma entidade super-humana, para pessoas que creem ou não na vida, que conservam esperanças em um futuro melhor, ou não. É um filme feito para pessoas que já perderam algum ente querido, ou ainda perderão, é destinado à crianças, adultos e idosos, sejam eles solteiros, casais ou famílias completas. Enfim, é um filme universal, destinado a tudo e todos. Um filme que não pode passar despercebido aos olhos de qualquer ser humano!

Gênero: Drama
Duração: 138 min.
Ano: 2011

4 comentários:

Daniel Chagas disse...

Não gosto nem um pouco do Brad Pitt e a premissa otimista me deixaram meio reassabiado, mas verei pois além de não se poder julgar um livro pela capa ou no caso um filme pela premissa ou sinopse, vc é o único crítico que confio então se vc aprovou, certamente vale a pena. Por fim, filmes com questionamentos, especialmente existencialistas, como "O Primeiro Mentiroso" por exemplo, ou até "Eu, Robô", sempre me interessam!

Selton Dutra Zen disse...

Obrigado!

Acho que "A Árvore da Vida" é muito mais que um filme otimista. É lírico, é poético, e muitas vezes bem pessimista no que diz respeito a relação pai e filho, marido e esposa.

Vale muito a pena uma conferida!

David Cotos disse...

Las escenas son bien cuidadas y de una extrema belleza. Una buena película con buenas actuaciones.

Hilton Neves disse...

Vi ontem. Mui boas as observações neste artigo! Quanto a "A Árvore da Vida", embora arrastado, traz mensagens boas. Acho que o lance é ir assistir já imbuído duma vibe poética, pois se o indivíduo for pela prosa, ele vai querer da estória um desenrolar mais a fundo, e não encontra.