350. Deus da Carnificina

quarta-feira, 21 de março de 2012
Postado por Selton Dutra Zen


(Bom)

Sempre conservei uma curiosidade mórbida em saber como reagiriam os pais de um agredido, quando se defrontassem com os pais de um agressor. Portanto, não poderia perder uma obra como esta, que prometia repaginar o tema "bullying" para algo de dimensões muito maiores: o confronto não só entre crianças, mas entre adultos também. E Polanski obteve êxito. Acrescentou uma roupagem totalmente nova à um tema que já havia caído na mesmice há muito tempo. Mas, apesar de contar com este e outros méritos, "Deus da Carnificina" está longe de ser um filme realmente espetacular.

A trama é simples (e abordada de forma objetiva, no filme de menor duração dentre os longas do diretor - 79 minutos). O filho de um casal, interpretado por Kate Winslet e Christoph Waltz, agride o descendente de um outro casal, levado à tela por Judie Foster e John C. Reilly. O casal lesado decide convidar a dupla antagônica para uma conversa em seu apartamento. A partir daí, a tensão vai crescendo de forma gradual, expondo as personagens à situações limites. 

E, conforme os minutos vão se passando, é impossível não se recordar de cineastas como Mike Nichols e Luis Buñuel. O primeiro vem à mente pelas semelhanças gritantes deste projeto para com o maravilhoso "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", obra inicial de Nichols. E Buñuel surge mais constante em nossas lembranças, pelo tom satírico que este mais novo trabalho de Roman Polanski carrega, seja em suas entrelinhas, ou mesmo em sua superfície. E justamente esta aura de sátira é que configura o maior ponto positivo do filme. Algumas situações cômicas são empregadas como crítica à sociedade burguesa e hipócrita, como as sequências do vômito, do arroto e da embriaguez de Winslet. E todo esse tom "bem-humorado" (por falta de termo melhor), só é maximizado e melhorado pelas ótimas performances de todo o elenco. Alguns podem tachar os desempenhos de artificiais e exagerados, mas na verdade, corroboram exatamente com o espírito do filme em si. Foster, como mãe calma e decidida, personifica perfeitamente a hipocrisia, enquanto as personas de Waltz e C. Reilly cuidam de escrachar a podridão da classe social (e da sociedade, de modo geral) apresentada. Por fim, Winslet representa o modelo de mulher que tenta, a todo custo, preservar as aparências ante os demais. 

Em contrapartida, a mesma direção que acerta em cheio na criação e manutenção da sátira, peca por não apresentar as reações condizentes das personagens, diante das situações a que são expostas. Este filme carece de momentos mais impactantes e personagens explodindo de forma muito mais crível. Pego o papel de Jodie como exemplo. Conforme citado acima, sua personalidade é a mais calma e determinada dentre os quatro. Durante toda a projeção, ela se mantém controlada. Até mesmo nos momentos em que possui crises de raiva e desespero, ela externaliza esta sensação de forma cuidadosa, sempre zelando para não falar aquilo que não deve, em termos muito pesados. O que acaba prejudicando consideravelmente obra.

Porém, no encerramento da projeção, o cineasta lança uma discussão interessante acerca da acomodação, criação de filhos e convivência em sociedade. E isto, no final das contas, acaba perdoando alguns pecados que Roman conserva durante este pequeno teatro filmado.

Gênero: Drama
Duração: 79 min.
Ano: 2011

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá Selton,

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Película Criativa disse...

Parabéns pelo texto.

Gostei bastante desse filme, que existe para provar que Polanski também é uma fera da comédia.