328. Pina

terça-feira, 18 de outubro de 2011
Postado por Selton Dutra Zen

(Bom)

Reconheço a qualidade técnica dos trabalhos de Wim Wenders e reconheço até que ele seja um diretor interessante e criativo, porém alguma coisa em seus filmes não funciona comigo. E aqui, em "Pina", não foi diferente. Não que este filme seja ruim, até porque indicaria para outras pessoas, porém alguma coisa não me agradou.

Esta mais nova produção de Wenders serve como uma homenagem à Pina Bausch, soberba coreógrafa, que mesclava, em suas danças enigmáticas, temas como a integração do homem a natureza, o sofrimento e a mulher. Este último fica visível principalmente nas duas performances iniciais, onde, na primeira, acompanhamos a trajetória de uma mulher em uma sociedade extremamente machista, em que ela luta, junto de outras mulheres também subordinadas, para se desgarrar de seu pretendente controlador. Já na segunda, denominada de "Café Müller", vemos cadeiras dispostas por todo um bar, que representam os empecilhos da vida do casal, que por sua vez, passa a ser controlado por um homem, que representa uma sociedade rigorosamente controladora. Percebe-se também que após este homem deixar o local, o casal acaba adquirindo uma espécie de vício, que nada mais é do que uma consequência desta dominação. Por fim, as obras de encerramento retratam a mulher dominando o sexo masculino, o que acaba representando a evolução do papel da mulher na sociedade.

E isto só fica visível pela edição, que é um show de erros e acertos. Acerta por propor este estudo evolutivo do sexo feminino através dos anos, além de conferir um bom ritmo à produção, ao intercalar as várias performances, evitando que esta se torne enfadonha. Todavia, erra justamente por aplicar cortes em momentos inoportunos, o que impede de termos uma sensação e uma visão macro das peças de Pina, pois no momento em que estamos construindo a emoção que viria mais tarde, somos jogados bruscamente em outra coreografia, quebrando completamente o clima. E este é um dos poucos erros do filme, pois a ideia de intercalar os números musicais é fantástica e poderia render algo a altura da proposta se não fosse o descuido do editor e do próprio Wenders.

E não só a edição de imagem é boa, mas também a edição de som, que procura dar ênfase nos ruídos diegéticos dos ambientes (como passos e respirações) ao invés de priorizar a música, que acaba ficando como elemento de fundo. A direção de arte também merece ressalvas pela escolha das locações de filmagem, além da recriação de alguns cenários utilizados pela própria Pina em suas apresentações, como o café Müller, que serve de palco para um de seus shows (me concedo a liberdade de utilizar esta expressão para caracterizar os trabalhos da coreógrafa) que citei acima.

Contudo, o destaque do âmbito técnico vai para a fotografia fantástica, onde a câmera passeia pelo ambiente de uma forma calma, delicada e requintada, o que acaba se contrapondo ao frenesi das coreografias observadas, que resulta em um ótimo equilíbrio de imagem. E ficaria muito satisfeito se "Pina" concorresse ao Oscar nesta categoria. Aliás, a indicação de melhor filme estrangeiro também seria conveniente, uma vez que este está concorrendo a uma vaga e merece figurar entre os cinco melhores representantes cinematográficos internacionais.

E, para finalizar, a direção de Wim Wenders é competente, por conseguir conciliar todos estes elementos acima da média de forma precisa e dinâmica.

"Pina" então, acaba se revelando uma ótima homenagem à uma artista que merece todo o reconhecimento que possui. Porém, é um filme que quando se encerrou, me deixou uma sensação de que algo está faltando, que alguma coisa não funcionou comigo. O que é? Não sei.

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