(Ruim)
Sob uma grande coincidência de horário e ocasião, consegui
conferir “As Aventuras de Pi” em um
cinema próximo de minha casa. Isso tudo felizmente, pois Ang Lee criou um filme
para ser conferido na tela grande, já que, dotado de uma ótima parte técnica,
agrada muito aos olhos. Pena que o agrado pare por aí mesmo.
Contado de forma fabulesca pelo próprio protagonista, somos
apresentados à história de um naufrágio. Pi e sua família possuem um zoológico,
mas decidem mudar de vida e migrar para o Canadá, vendendo seus animais lá
também. Assim, embarcam em um navio rumo ao país norte-americano. No meio da
viagem, porém, uma tempestade assola os mares e naufraga a embarcação. Apenas
Pi e alguns animais de sua família conseguem escapar e se alojam em um bote
salva vidas no meio do oceano. Começa, então, uma jornada de sobrevivência.
Contudo, o filme já se mostra errado logo em seu início.
Aberto com um prólogo gigante e – muitas vezes – desnecessário, “The Life of Pi” reserva seus 30
minutos iniciais para uma introdução à vida do protagonista que se releva longa
e desfocada demais. Dessa forma, antes mesmo de o dito naufrágio acontecer, a
produção já se desgasta gratuitamente.
Mas, em despeito dos deméritos iniciais, a sequência da
catástrofe vem para fortalecer um pouco a projeção. Nela, Lee consegue exprimir
muito bem a angústia e desespero do rapaz, com sua direção forte, precisa e
suas imagens colossais. Todavia, o problema real do filme vem após isso. Com
intermináveis sequências de sobrevivência (que diversas vezes parecem não ser
muito levadas a sério pelo cineasta), conseguimos perceber o quão insuportável
o personagem principal é. Pi é uma figura sem carisma nenhum e seu amor e
preocupação pela natureza é exagerado e irritante. E, levando em conta que o
iremos acompanhar pelos próximos 90 minutos de projeção, a experiência de se
assistir ao filme se torna algo não tão agradável assim.
De qualquer forma, por mais desagradável que “As Aventuras de Pi” seja, é impossível
fechar os olhos a méritos indiscutíveis, como a maravilhosa fotografia que
coloca algumas cenas do filme nos anais dos momentos fílmicos mais bonitos do ano passado (como as nuvens do por do sol
refletindo na límpida água do mar). Além disso, a trilha sonora é comovente e
se mescla à narrativa de forma admirável. Outro ponto de destaque (e o maior
feito de Ang Lee nesta obra, inclusive) é o modo como se aborda o mar. A partir
dos quadros deslumbrantes e das cores inebriantes, o diretor coloca o oceano
como uma região de extrema beleza (vide os peixes nadando e a baleia pulando),
mas que pode se tornar um perigo letal num piscar de olhos, seja pelas
tempestades e tubarões que caçam o sobrevivente, ou mesmo pela imensidão azul,
profunda e obscura, dotada de criaturas que podem emergir a qualquer momento. E,
no final das contas, é isso que faz “The
Life of Pi” valer o ingresso. A grandiosidade é tamanha que em alguns
momentos chega a sufocar.
Porém, como um filme não se constitui apenas de técnica e
alguns pontos notáveis, no saldo geral, este mais novo trabalho de Ang
fracassou. Pode soar um tanto exagerado, mas “...Pi” é um dos mais fracos filmes do ano passado. E, dentre os
que vi do realizador, seu pior trabalho. Com tudo isso que escrevi, nem preciso
dizer o que acho de sua indicação a diversas categorias do Academy Awards este
ano, não é?!
Gênero: Aventura
Duração: 127 min.
Ano: 2012
Marcadores:
Críticas
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