(Ruim)
É notório que o Oscar possui diretores queridos. Aqueles que, mesmo sendo completos incompetentes, ainda continuarão a ser indicados nas categorias principais. E o queridinho da vez é Tom Hooper, o fraquíssimo diretor de "O Discurso do Rei" (premiado há dois anos atrás). O truque é que Hooper descobriu a fórmula do jogo. E a aplica em seus filmes para concorrer ao prêmio. Nem que isso implique em filmar cenas forçadas, explorando o máximo do sofrimento em sua forma mais melosa - como faz aqui.
Baseado na mais famosa obra de Victor Hugo, "Os Miseráveis" narra a jornada de Jean Valjean, ex-prisioneiro que, após chegar ao fundo do poço, promete mudar de vida. Porém, o inspetor Javert se determina a encontrá-lo e prendê-lo. Ao longo de sua jornada, se envolve com os personagens mais diversos, culminando na própria Revolução Francesa. A história é belíssima e forte. Já rendeu filmes de alto nível. E este seria mais um, não fosse a direção horrível de Tom Hooper. Impreciso e raso, parece que o realizador se acovarda em levar o drama mais a fundo, não se aprofunda nos personagens e cuida de estragar momentos de lirismo ímpar na narrativa. Além do mais, parece não ter conhecimento algum sobre fotografia e filmagem. Tentando adicionar uma roupagem mais atual e moderna à revolução, a câmera na mão se torna irritante e exagerada por diversos momentos.
E por falar em exagero, Tom parece ser mestre na arte de exagerar (negativamente). Obriga seus atores a serem caricatos ao extremo enquanto cantam. Pois, para ele, não basta cantar, tem que berrar.
Felizmente, o mesmo erro não se repete por parte do elenco - o ponto mais positivo do filme, de longe. O cast é repleto de performances memoráveis, com destaque, claro, para Anne Hathaway, como a prostituta Fantine. A entrega da atriz ao papel é digna de nota, rendendo momentos sublimes, como sua performance de "I Dreamed a Dream" (que levou diversas pessoas da minha sessão às lágrimas), o melhor momento de todos os 157 minutos de projeção. Hugh Jackman, porém, não fica muito atrás. Brilha em diversos momentos e merece todos os elogios que recebe. Os coadjuvantes também não decepcionam. Helena Boham Carter e Sasha Baron Cohen formam uma dupla ótima e um alívio cômico bem considerável. Porém, eu me pergunto: quem colocou na cabeça que Russel Crowe e Amana Seyfried tinham o mínimo de talento para o canto?! Crowe, como cantor, é um ótimo ator. Já de Amanda, não posso dizer o mesmo. Erra no canto e na atuação, erra no papel e erra por ter seguido a profissão de atriz. De qualquer forma, por mais que as atuações sejam magistrais (tirando as duas exceções, obviamente), ainda estão submetidas a direção ridícula de Hooper, que acaba estragando algumas boas tiradas dos atores, os forçando a exagerar demais em diversas passagens, exterminando muito da verossimilhança do filme.
Como se não bastasse, o roteiro também faz jus à direção: diversas músicas são fraquíssimas e vergonhosas - já que tudo é cantado. Além do mais, diversos versos são completamente dispensáveis (como os pensamentos cantados), o que torna tudo mais gratuitamente meloso e exagerado. Porém, o fato de não haver nenhum diálogo falado normalmente não justifica algumas letras de qualidade duvidável. Já que se dá ao estilo ópera, comparemos às óperas, então. Já assisti a óperas que - apesar de tudo ser cantado - possuíam textos e rimas divinas. Não preguiçosas e aborrecidas como estas do filme. Se for para conferir uma ópera durante a Revolução Francesa, fico com "Ça Ira", de Roger Waters.
E encerrando com chave de ouro, temos uma montagem péssima, confusa e descoordenada que também deve ter sido infectada pela incompetência do diretor. "Os Miseráveis", então, não justifica diversas indicações que recebeu ao Oscar, ainda que tenha momentos memoráveis. Tudo isso me leva a crer que, se Tom Hooper dirigisse uma versão inglesa de "Cinderela Baiana", este provavelmente concorreria nas categorias principais do Oscar.
Gênero: Drama
Duração: 157 min.
Ano: 2012
Marcadores:
Críticas
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