365. As Aventuras de Pi

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
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(Ruim)

Sob uma grande coincidência de horário e ocasião, consegui conferir “As Aventuras de Pi” em um cinema próximo de minha casa. Isso tudo felizmente, pois Ang Lee criou um filme para ser conferido na tela grande, já que, dotado de uma ótima parte técnica, agrada muito aos olhos. Pena que o agrado pare por aí mesmo.

Contado de forma fabulesca pelo próprio protagonista, somos apresentados à história de um naufrágio. Pi e sua família possuem um zoológico, mas decidem mudar de vida e migrar para o Canadá, vendendo seus animais lá também. Assim, embarcam em um navio rumo ao país norte-americano. No meio da viagem, porém, uma tempestade assola os mares e naufraga a embarcação. Apenas Pi e alguns animais de sua família conseguem escapar e se alojam em um bote salva vidas no meio do oceano. Começa, então, uma jornada de sobrevivência.

Contudo, o filme já se mostra errado logo em seu início. Aberto com um prólogo gigante e – muitas vezes – desnecessário, “The Life of Pi” reserva seus 30 minutos iniciais para uma introdução à vida do protagonista que se releva longa e desfocada demais. Dessa forma, antes mesmo de o dito naufrágio acontecer, a produção já se desgasta gratuitamente.

Mas, em despeito dos deméritos iniciais, a sequência da catástrofe vem para fortalecer um pouco a projeção. Nela, Lee consegue exprimir muito bem a angústia e desespero do rapaz, com sua direção forte, precisa e suas imagens colossais. Todavia, o problema real do filme vem após isso. Com intermináveis sequências de sobrevivência (que diversas vezes parecem não ser muito levadas a sério pelo cineasta), conseguimos perceber o quão insuportável o personagem principal é. Pi é uma figura sem carisma nenhum e seu amor e preocupação pela natureza é exagerado e irritante. E, levando em conta que o iremos acompanhar pelos próximos 90 minutos de projeção, a experiência de se assistir ao filme se torna algo não tão agradável assim.

De qualquer forma, por mais desagradável que “As Aventuras de Pi” seja, é impossível fechar os olhos a méritos indiscutíveis, como a maravilhosa fotografia que coloca algumas cenas do filme nos anais dos momentos fílmicos mais bonitos do ano passado (como as nuvens do por do sol refletindo na límpida água do mar). Além disso, a trilha sonora é comovente e se mescla à narrativa de forma admirável. Outro ponto de destaque (e o maior feito de Ang Lee nesta obra, inclusive) é o modo como se aborda o mar. A partir dos quadros deslumbrantes e das cores inebriantes, o diretor coloca o oceano como uma região de extrema beleza (vide os peixes nadando e a baleia pulando), mas que pode se tornar um perigo letal num piscar de olhos, seja pelas tempestades e tubarões que caçam o sobrevivente, ou mesmo pela imensidão azul, profunda e obscura, dotada de criaturas que podem emergir a qualquer momento. E, no final das contas, é isso que faz “The Life of Pi” valer o ingresso. A grandiosidade é tamanha que em alguns momentos chega a sufocar.

Porém, como um filme não se constitui apenas de técnica e alguns pontos notáveis, no saldo geral, este mais novo trabalho de Ang fracassou. Pode soar um tanto exagerado, mas “...Pi” é um dos mais fracos filmes do ano passado. E, dentre os que vi do realizador, seu pior trabalho. Com tudo isso que escrevi, nem preciso dizer o que acho de sua indicação a diversas categorias do Academy Awards este ano, não é?!

Gênero: Aventura
Duração: 127 min.
Ano: 2012

364. Django Livre

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(Obra-prima)


P.S: Este post contém spoilers!

E ele conseguiu de novo! Dono de uma filmografia impecável, Tarantino alcançou a glória mais uma vez com seu novo longa. Algo esperado, para dizer a verdade, já que aqui, homenageia seu gênero favorito: o western. E vale mencionar, para os que não me conhecem muito bem, que não aprecio muito os filmes de cowboy. Tenho uma aversão nata e inexplicável por eles. De qualquer forma, Quentin foi o primeiro diretor que me manifestou desejo de conferir uma obra pertencente a esta classificação e me agradou completamente. Sai da sessão eufórico, elogiando e completamente hipnotizado pelo show de bizarrices e sanguinolência que presenciei ao longo de 165 minutos de projeção.

Mestre em criar personagens icônicos, Quentin nos apresenta ao universo de Django (interpretado por Jamie Foxx), negro alforriado sob uma proposta de ajuda a King Schultz (Christoph Waltz) – um caçador de brancos fora-da-lei – em um serviço. O negócio dá certo e ambos formam uma dupla. Em meio a matanças, a amizade vai crescendo e Schultz promete procurar a esposa escrava de Django. Assim, os dois se lançam em uma busca determinada, recheada de brutalidade, comicidade e extremismos (bem à lá Tarantino). Não demora para se depararem com seu destino: um dos mais poderosos escravistas da região, Calvin Candie (por Leonardo di Caprio), o proprietário da escrava. A questão agora é se infiltrar e conquistar a confiança do magnata e resgatar a mulher. Para contar a trama, porém, o diretor recorre a diversos plot twists durante a narrativa, bem como fez em mais alguns de seus trabalhos (como “À Prova de Morte” e “Pulp Fiction”). O primeiro acontece com a conclusão do serviço pelo qual Django fora contratado. Quando pensamos que a trama irá acompanhar de perto os esforços para capturar e matar o trio de infratores da lei, logo o genial diretor muda completamente o foco da narrativa. Passamos a acompanhar os “mocinhos” (ou melhor, anti-heróis) na busca pela garota escrava. Não obstante, no início do terceiro ato, uma nova guinada acontece. Com a morte de King Schultz, Django se lança numa jornada obcecada de vingança e acerto de contas (o âmago do filme, aliás). O que resulta em uma das melhores cenas de ação que Tarantino já filmou.

Ela merece um destaque mais aprofundado, inclusive. É um dos pontos mais altos da película e um parque de diversão para Quentin. Mesclando humor ácido com litros de sangue, o que vemos é um show onde a violência ultrapassa o sentido do choque, e se torna satírica – quem conhece o diretor, sabe do que estou falando. Aliás, como esta sequência, o filme inteiro é recheado de diversão negra. É, sem dúvidas, o filme mais engraçado de Tarantino. A cena da pré-Klu Klux Klan planejando o assassinato da dupla, por exemplo, é a cena mais hilária que assisti em um filme do ano passado. Supera qualquer comédia de 2012. Destaque, também, para outros elementos que ajudam a compor o cenário hilário do longa, como a trilha sonora, recheada de músicas que não cabem à época retratada, mas que, de alguma forma, caem como uma luva à narrativa.

O roteiro, como sempre, é um dos destaques máximos. Como de praxe, escrito pelo próprio diretor, possui diálogos antológicos e dignos de aplausos. Estes, mesclados à maravilhosa direção, criam cenas sublimes no que tange construção de tensão e personagens. Outro elemento onde Tarantino é mestre. E, por falar em personagens, são inesquecíveis. Pelo menos a dupla de personagens secundários (Waltz e Caprio) ficará gravada para sempre como algumas das figuras mais inexoráveis em filmes do diretor e também dos últimos anos.

Quanto às atuações, nem precisaria relatar, pois o resultado todos já devem saber (em vista que a direção de Quentin é tão forte e competente que é capaz de arrancar de atores medíocres, desempenhos memoráveis). Waltz está sensacional e só reafirmou seu nome como um dos maiores atores da atualidade. O que mais me impressiona em sua pessoa profissional é a versatilidade que tem em encarnar papéis completamente distintos de um ano a outro. Poucos atores conseguem tamanho êxito. Dessa vez, como alemão caçador de recompensas, apesar da nacionalidade de sua persona ser a mesma de seu papel anterior, abandona muito da periculosidade que tinha em “Bastardos Inglórios” (embora ainda seja letal com sua frieza e sua mira precisa) para dar lugar a uma ironia e perspicácia fora do comum. Porém, não sei se por ter sido ofuscado pelo talento gritante de Christoph ou mesmo por sua própria culpa, Foxx me pareceu um tanto apagado. Representa bem o que lhe foi entregue, mas fica muito aquém dos profissionais com quem contracena. Leonardo di Caprio, por sua vez, também está grandioso e onipresente. E apesar de “Django Livre” ter angariado diversas indicações ao Oscar deste ano, é motivo de indignação que Leonardo não tenha sido nomeado para ator coadjuvante (disputaria, então, com um outro representante do filme. Algo parecido com “Histórias Cruzadas”, ano passado).

No âmbito técnico, vemos um Tarantino mais contido. Ausente de muitas trucagens de montagem (com alguns flashbacks, apenas), o diretor procura empregar seu estilo mais em seu roteiro e direção que na estética. O mais escandaloso, talvez, seja a fotografia, principalmente por homenagear de forma bem explícita o western. Com closes bruscos e berrantes e ângulos típicos, é feito uma lembrança inteligente do gênero, além de nunca se esquecer da beleza ao usar angulações corretas e cores corretas, nos momentos certos. Justifica sua indicação a fotografia, no Oscar 2013.

“Django Livre”, dessa forma, é um dos melhores filmes do ano passado, além de um dos maiores acertos do Academy Awards, em suas indicações. Filme para ser conferido em tela grande. Ser visto e revisto no cinema. Em toda sua glória.

Gênero: Western
Duração: 165 min.
Ano: 2012

363. Indomável Sonhadora

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
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(Mediano)

“Beasts of the Southern Wild” (traduzido pavorosamente para “Indomável Sonhadora”) é um filme falso e hipócrita. Sob a premissa de narrar uma bela história de superação, o diretor (e também roteirista) Benh Zeitlin acaba criando um projeto que parece ter sido filmado com o único objetivo de disputar as principais categorias do Oscar deste ano.

Desenvolvido de forma muito sentimental, o longa narra a relação conturbada entre um pai e sua filha pequena (Quvenzhané Wallis), agravada pela chegada de uma gravíssima enchente no vilarejo pobre onde moram. Até aí, nada que provoque descontentamento. O problema é a obviedade com que a história se desenrola. Repleta de pontos comuns e clichês do gênero, “Indomável Sonhadora” em nada se difere de muitas outras produções esquecíveis sobre o mesmo tema, lançadas nos últimos anos. E em alguns momentos, inclusive, falha bastante na criação de sentimentos. Diversas sequências dramáticas me pareceram completamente insípidas. 

Isso não injustifica, porém, sua indicação a diversas categorias do Oscar, já que, desde sua primeira sequência, o filme se modela aos parâmetros que mais agradam a maior premiação do cinema. É bem provável que este tenha sido o objetivo do diretor. Assim, neste filme, temos: doença, escassez de comida, dificuldades extremas, superação, amor familiar e uma lição de moral forçada e didática. Bem do jeitinho que a Academia gosta. E muito provavelmente esses elementos os tenham cegado das inúmeras falhas cometidas pelo realizador, seja na direção, como no roteiro.

Isso principalmente acontece no que tange à relação pai e filha – que é um dos núcleos da trama (junto da trajetória da garotinha). O personagem do pai é muito mal definido e evoluído. Em dados momentos, sua perversidade e brutalidade o coloca como vilão máximo do filme, mais perigoso que a própria água que os cerca. Em outros, aparenta ser um homem carismático e amoroso. Assim, o diretor se perde ao criar uma persona que vai aos extremos de uma cena à outra. E quando um dos personagens no qual a trama se desenvolve sobre e gira em torno está prejudicado, é bem explicável o modo como o filme desanda em alguns momentos.

Contudo, enquanto comete erros consideráveis como este acima, a direção não é de toda ruim. O cineasta consegue, sim, criar algumas cenas muito bonitas, como a da festa da vizinhança, logo no início da projeção. A trucagem de representar a ligação que a garota conserva com a natureza através das batidas dos corações também soou muito pertinente e inteligente. Sem contar que a narração da protagonista-mirim é de uma beleza gigante. E por falar em atriz-mirim, a performance de Quvenzhané Wallis, que bateu o recorde de atriz mais jovem a ser indicada ao Oscar, é exemplar para atores de sua geração. A naturalidade e sinceridade com que leva sua personagem às telas é admirável. E sua nomeação na categoria de melhor atriz, não vou dizer que foi completamente merecida (já que muitas outras mulheres tiveram atuações mais impressionantes que ela – como Meryl Streep, no excelente “Um Divã para Dois”), mas funcionou como uma forma de salientar e incentivar os profissionais dessa idade. Além do mais, sua personagem também contribuiu para a aceitação geral, já que é carismática ao extremo e realmente carrega o filme inteiro nas costas – sendo a única pessoa realmente interessante por lá. Pena mesmo é que um dos pouquíssimos pontos realmente sinceros da obra ficou à cargo de Wallis.

E ao final das contas, Benh Zeitlin conseguiu a nomeação de seu filme em diversas categorias principais (inclusive sua disputa como diretor), porém, não deve levar muita coisa para casa. É o que quero acreditar e torcer, pois isto seria, no mínimo, intolerável.


Gênero: Drama
Duração: 92 min.
Ano: 2013

Cinefilia 21: Indicados ao Oscar 2013

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
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Há pouco mais de uma hora atrás, foram anunciados ao vivo os indicados ao Oscar 2013. E devo dizer que a seleção de filmes - embora óbvia em alguns momentos - é uma das melhores nos últimos anos. 

Os pontos esperados estão lá, arrecadando o máximo de indicações da edição. "Lincoln" lidera com 12 indicações, seguido de "As Aventuras de Pi" (concorrendo em 11 categorias). "O Lado Bom da Vida" e "Os Miseráveis" também marcam presença em diversas, incluindo as principais. O novo projeto de Tarantino, felizmente, não foi esquecido e é concorrente em categorias já disputadas pelo diretor, como filme, roteiro original, ator coadjuvante (Christoph Waltz, mais uma vez), fotografia e edição de som. Surpreendente não ter sido nomeado em montagem. 

Mas até aí, nada de novo no front. Surpresa mesmo (e o motivo de eu considerar tanto a seleção deste ano) é as diversas indicações para a obra-prima de 2012, "Amour". Confesso que me emocionei ao ver o longa nomeado em 5 categorias. Filme estrangeiro (como já se esperava), atriz (para a sublime performance de Emmanuelle Riva), roteiro original, filme, e até mesmo diretor. É certo que as chances de "Amour" ganhar nas duas últimas categorias são quase nulas, mas apenas pelo fato da Academia não o ter ignorado, como faz anualmente com os filmes geralmente merecedores, já é digno de nota. 

É  surpreendente, também, ver que "O Hobbit" angariou apenas 3 indicações, nas categorias técnicas, quando se esperava bem mais. E "Hitchcock" apenas uma, em maquiagem.

Porém, se existe uma categoria da qual reclamaria na seleção, é a de animação. Certo que este ano não foram lançados grandes filmes animados, mas indicar o detestável Tim Burton talvez tenha sido o que mais me enfureceu, principalmente pela reprovação que tenho quanto ao diretor. 

Contudo, o saldo geral foi muito positivo e, depois de anos, me motivou a conferir a cerimônia com entusiasmo.  


P.S: Ao contrário do que sempre fiz nos últimos anos, não irei escrever uma análise crítica para cada filme indicado ao Oscar, por falta de tempo e - algumas vezes - senso criativo. Todavia, neste intervalo de um mês e meio à cerimônia, vou dissertando um pouco a respeito de cada título, seja em forma de textos ou breves parágrafos anexos a postagens relacionadas a 85ª premiação do Oscar 2013.