364. Django Livre

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
Postado por Selton Dutra Zen


(Obra-prima)


P.S: Este post contém spoilers!

E ele conseguiu de novo! Dono de uma filmografia impecável, Tarantino alcançou a glória mais uma vez com seu novo longa. Algo esperado, para dizer a verdade, já que aqui, homenageia seu gênero favorito: o western. E vale mencionar, para os que não me conhecem muito bem, que não aprecio muito os filmes de cowboy. Tenho uma aversão nata e inexplicável por eles. De qualquer forma, Quentin foi o primeiro diretor que me manifestou desejo de conferir uma obra pertencente a esta classificação e me agradou completamente. Sai da sessão eufórico, elogiando e completamente hipnotizado pelo show de bizarrices e sanguinolência que presenciei ao longo de 165 minutos de projeção.

Mestre em criar personagens icônicos, Quentin nos apresenta ao universo de Django (interpretado por Jamie Foxx), negro alforriado sob uma proposta de ajuda a King Schultz (Christoph Waltz) – um caçador de brancos fora-da-lei – em um serviço. O negócio dá certo e ambos formam uma dupla. Em meio a matanças, a amizade vai crescendo e Schultz promete procurar a esposa escrava de Django. Assim, os dois se lançam em uma busca determinada, recheada de brutalidade, comicidade e extremismos (bem à lá Tarantino). Não demora para se depararem com seu destino: um dos mais poderosos escravistas da região, Calvin Candie (por Leonardo di Caprio), o proprietário da escrava. A questão agora é se infiltrar e conquistar a confiança do magnata e resgatar a mulher. Para contar a trama, porém, o diretor recorre a diversos plot twists durante a narrativa, bem como fez em mais alguns de seus trabalhos (como “À Prova de Morte” e “Pulp Fiction”). O primeiro acontece com a conclusão do serviço pelo qual Django fora contratado. Quando pensamos que a trama irá acompanhar de perto os esforços para capturar e matar o trio de infratores da lei, logo o genial diretor muda completamente o foco da narrativa. Passamos a acompanhar os “mocinhos” (ou melhor, anti-heróis) na busca pela garota escrava. Não obstante, no início do terceiro ato, uma nova guinada acontece. Com a morte de King Schultz, Django se lança numa jornada obcecada de vingança e acerto de contas (o âmago do filme, aliás). O que resulta em uma das melhores cenas de ação que Tarantino já filmou.

Ela merece um destaque mais aprofundado, inclusive. É um dos pontos mais altos da película e um parque de diversão para Quentin. Mesclando humor ácido com litros de sangue, o que vemos é um show onde a violência ultrapassa o sentido do choque, e se torna satírica – quem conhece o diretor, sabe do que estou falando. Aliás, como esta sequência, o filme inteiro é recheado de diversão negra. É, sem dúvidas, o filme mais engraçado de Tarantino. A cena da pré-Klu Klux Klan planejando o assassinato da dupla, por exemplo, é a cena mais hilária que assisti em um filme do ano passado. Supera qualquer comédia de 2012. Destaque, também, para outros elementos que ajudam a compor o cenário hilário do longa, como a trilha sonora, recheada de músicas que não cabem à época retratada, mas que, de alguma forma, caem como uma luva à narrativa.

O roteiro, como sempre, é um dos destaques máximos. Como de praxe, escrito pelo próprio diretor, possui diálogos antológicos e dignos de aplausos. Estes, mesclados à maravilhosa direção, criam cenas sublimes no que tange construção de tensão e personagens. Outro elemento onde Tarantino é mestre. E, por falar em personagens, são inesquecíveis. Pelo menos a dupla de personagens secundários (Waltz e Caprio) ficará gravada para sempre como algumas das figuras mais inexoráveis em filmes do diretor e também dos últimos anos.

Quanto às atuações, nem precisaria relatar, pois o resultado todos já devem saber (em vista que a direção de Quentin é tão forte e competente que é capaz de arrancar de atores medíocres, desempenhos memoráveis). Waltz está sensacional e só reafirmou seu nome como um dos maiores atores da atualidade. O que mais me impressiona em sua pessoa profissional é a versatilidade que tem em encarnar papéis completamente distintos de um ano a outro. Poucos atores conseguem tamanho êxito. Dessa vez, como alemão caçador de recompensas, apesar da nacionalidade de sua persona ser a mesma de seu papel anterior, abandona muito da periculosidade que tinha em “Bastardos Inglórios” (embora ainda seja letal com sua frieza e sua mira precisa) para dar lugar a uma ironia e perspicácia fora do comum. Porém, não sei se por ter sido ofuscado pelo talento gritante de Christoph ou mesmo por sua própria culpa, Foxx me pareceu um tanto apagado. Representa bem o que lhe foi entregue, mas fica muito aquém dos profissionais com quem contracena. Leonardo di Caprio, por sua vez, também está grandioso e onipresente. E apesar de “Django Livre” ter angariado diversas indicações ao Oscar deste ano, é motivo de indignação que Leonardo não tenha sido nomeado para ator coadjuvante (disputaria, então, com um outro representante do filme. Algo parecido com “Histórias Cruzadas”, ano passado).

No âmbito técnico, vemos um Tarantino mais contido. Ausente de muitas trucagens de montagem (com alguns flashbacks, apenas), o diretor procura empregar seu estilo mais em seu roteiro e direção que na estética. O mais escandaloso, talvez, seja a fotografia, principalmente por homenagear de forma bem explícita o western. Com closes bruscos e berrantes e ângulos típicos, é feito uma lembrança inteligente do gênero, além de nunca se esquecer da beleza ao usar angulações corretas e cores corretas, nos momentos certos. Justifica sua indicação a fotografia, no Oscar 2013.

“Django Livre”, dessa forma, é um dos melhores filmes do ano passado, além de um dos maiores acertos do Academy Awards, em suas indicações. Filme para ser conferido em tela grande. Ser visto e revisto no cinema. Em toda sua glória.

Gênero: Western
Duração: 165 min.
Ano: 2012

0 comentários: