(Mediano)
“Beasts of the Southern
Wild” (traduzido
pavorosamente para “Indomável Sonhadora”)
é um filme falso e hipócrita. Sob a premissa de narrar uma bela história de
superação, o diretor (e também roteirista) Benh
Zeitlin acaba criando um projeto que parece ter sido filmado com o único
objetivo de disputar as principais categorias do Oscar deste ano.
Desenvolvido de forma muito sentimental, o longa narra a
relação conturbada entre um pai e sua filha pequena (Quvenzhané Wallis),
agravada pela chegada de uma gravíssima enchente no vilarejo pobre onde moram.
Até aí, nada que provoque descontentamento. O problema é a obviedade com que a
história se desenrola. Repleta de pontos comuns e clichês do gênero, “Indomável Sonhadora” em nada se difere
de muitas outras produções esquecíveis sobre o mesmo tema, lançadas nos últimos
anos. E em alguns momentos, inclusive, falha bastante na criação de
sentimentos. Diversas sequências dramáticas me pareceram completamente
insípidas.
Isso não injustifica, porém, sua indicação a diversas
categorias do Oscar, já que, desde sua primeira sequência, o filme se modela
aos parâmetros que mais agradam a maior premiação do cinema. É bem provável que
este tenha sido o objetivo do diretor. Assim, neste filme, temos: doença,
escassez de comida, dificuldades extremas, superação, amor familiar e uma lição
de moral forçada e didática. Bem do jeitinho que a Academia gosta. E muito
provavelmente esses elementos os tenham cegado das inúmeras falhas cometidas
pelo realizador, seja na direção, como no roteiro.
Isso principalmente acontece no que tange à relação pai e
filha – que é um dos núcleos da trama (junto da trajetória da garotinha). O
personagem do pai é muito mal definido e evoluído. Em dados momentos, sua perversidade
e brutalidade o coloca como vilão máximo do filme, mais perigoso que a própria
água que os cerca. Em outros, aparenta ser um homem carismático e amoroso.
Assim, o diretor se perde ao criar uma persona que vai aos extremos de uma cena
à outra. E quando um dos personagens no qual a trama se desenvolve sobre e gira
em torno está prejudicado, é bem explicável o modo como o filme desanda em
alguns momentos.
Contudo, enquanto comete erros consideráveis como este acima,
a direção não é de toda ruim. O cineasta consegue, sim, criar algumas cenas
muito bonitas, como a da festa da vizinhança, logo no início da projeção. A
trucagem de representar a ligação que a garota conserva com a natureza através
das batidas dos corações também soou muito pertinente e inteligente. Sem contar
que a narração da protagonista-mirim é de uma beleza gigante. E por falar em
atriz-mirim, a performance de Quvenzhané Wallis, que
bateu o recorde de atriz mais jovem a ser indicada ao Oscar, é exemplar para
atores de sua geração. A naturalidade e sinceridade com que leva sua personagem
às telas é admirável. E sua nomeação na categoria de melhor atriz, não vou
dizer que foi completamente merecida (já que muitas outras mulheres tiveram
atuações mais impressionantes que ela – como Meryl Streep, no excelente “Um Divã para Dois”), mas funcionou
como uma forma de salientar e incentivar os profissionais dessa idade. Além do
mais, sua personagem também contribuiu para a aceitação geral, já que é
carismática ao extremo e realmente carrega o filme inteiro nas costas – sendo a
única pessoa realmente interessante por lá. Pena mesmo é que um dos
pouquíssimos pontos realmente sinceros da obra ficou à cargo de Wallis.
E ao final das contas, Benh Zeitlin conseguiu
a nomeação de seu filme em diversas categorias principais (inclusive sua
disputa como diretor), porém, não deve levar muita coisa para casa. É o que
quero acreditar e torcer, pois isto seria, no mínimo, intolerável.
Gênero: Drama
Duração: 92 min.
Ano: 2013 Marcadores: Críticas
0 comentários:
Postar um comentário