363. Indomável Sonhadora

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013
Postado por Selton Dutra Zen


(Mediano)

“Beasts of the Southern Wild” (traduzido pavorosamente para “Indomável Sonhadora”) é um filme falso e hipócrita. Sob a premissa de narrar uma bela história de superação, o diretor (e também roteirista) Benh Zeitlin acaba criando um projeto que parece ter sido filmado com o único objetivo de disputar as principais categorias do Oscar deste ano.

Desenvolvido de forma muito sentimental, o longa narra a relação conturbada entre um pai e sua filha pequena (Quvenzhané Wallis), agravada pela chegada de uma gravíssima enchente no vilarejo pobre onde moram. Até aí, nada que provoque descontentamento. O problema é a obviedade com que a história se desenrola. Repleta de pontos comuns e clichês do gênero, “Indomável Sonhadora” em nada se difere de muitas outras produções esquecíveis sobre o mesmo tema, lançadas nos últimos anos. E em alguns momentos, inclusive, falha bastante na criação de sentimentos. Diversas sequências dramáticas me pareceram completamente insípidas. 

Isso não injustifica, porém, sua indicação a diversas categorias do Oscar, já que, desde sua primeira sequência, o filme se modela aos parâmetros que mais agradam a maior premiação do cinema. É bem provável que este tenha sido o objetivo do diretor. Assim, neste filme, temos: doença, escassez de comida, dificuldades extremas, superação, amor familiar e uma lição de moral forçada e didática. Bem do jeitinho que a Academia gosta. E muito provavelmente esses elementos os tenham cegado das inúmeras falhas cometidas pelo realizador, seja na direção, como no roteiro.

Isso principalmente acontece no que tange à relação pai e filha – que é um dos núcleos da trama (junto da trajetória da garotinha). O personagem do pai é muito mal definido e evoluído. Em dados momentos, sua perversidade e brutalidade o coloca como vilão máximo do filme, mais perigoso que a própria água que os cerca. Em outros, aparenta ser um homem carismático e amoroso. Assim, o diretor se perde ao criar uma persona que vai aos extremos de uma cena à outra. E quando um dos personagens no qual a trama se desenvolve sobre e gira em torno está prejudicado, é bem explicável o modo como o filme desanda em alguns momentos.

Contudo, enquanto comete erros consideráveis como este acima, a direção não é de toda ruim. O cineasta consegue, sim, criar algumas cenas muito bonitas, como a da festa da vizinhança, logo no início da projeção. A trucagem de representar a ligação que a garota conserva com a natureza através das batidas dos corações também soou muito pertinente e inteligente. Sem contar que a narração da protagonista-mirim é de uma beleza gigante. E por falar em atriz-mirim, a performance de Quvenzhané Wallis, que bateu o recorde de atriz mais jovem a ser indicada ao Oscar, é exemplar para atores de sua geração. A naturalidade e sinceridade com que leva sua personagem às telas é admirável. E sua nomeação na categoria de melhor atriz, não vou dizer que foi completamente merecida (já que muitas outras mulheres tiveram atuações mais impressionantes que ela – como Meryl Streep, no excelente “Um Divã para Dois”), mas funcionou como uma forma de salientar e incentivar os profissionais dessa idade. Além do mais, sua personagem também contribuiu para a aceitação geral, já que é carismática ao extremo e realmente carrega o filme inteiro nas costas – sendo a única pessoa realmente interessante por lá. Pena mesmo é que um dos pouquíssimos pontos realmente sinceros da obra ficou à cargo de Wallis.

E ao final das contas, Benh Zeitlin conseguiu a nomeação de seu filme em diversas categorias principais (inclusive sua disputa como diretor), porém, não deve levar muita coisa para casa. É o que quero acreditar e torcer, pois isto seria, no mínimo, intolerável.


Gênero: Drama
Duração: 92 min.
Ano: 2013

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