(Muito bom)
P.S: As passagens em itálico contêm
spoliers!
Fernando Meirelles parece ter obedecido à regra de “se quiser
ganhar dinheiro com cinema, vá ao exterior” e obtido êxito. Após relativos
sucessos, como “O Jardineiro Fiel” e
“Ensaio Sobre a Cegueira” – nos
quais trabalhou com grandes nomes do cinema atual -, o cineasta brasileiro decide apostar em território comum, sem inovar
em nada, tampouco sair de uma zona de conforto, porém, a inteligência da
direção do realizador acabou por esquivar este drama do genérico, embora ainda
esteja muito distante de algo memorável.
Apostando em uma trama fragmentada, “360” nos remete as vidas de inúmeras pessoas se cruzando ao longo
da narrativa, seja de maneira nociva ou não. Todavia, mesmo com esta plot, não
se iluda pensando que os cruzamentos serão dramáticos ou desesperadores (como
nos longas de Iñarritu, para citar apenas poucos exemplos), já que o roteiro
caminha por uma estrada mais simples e cautelosa, nos apresentando a pequenos
eventos, que afetam parcialmente a vida das personagens (com exceção do drama do dentista e de sua ajudante – esse sim, algo
mais mórbido), sem arruinar suas existências por completo. E aí reside o primeiro
trunfo do filme: sua ausência de pedantismo. Tudo o que vemos em tela é a vida
como ela é, cheia de altos e baixos, perdas e ganhos ou esperanças e
desconsolos, não precisando apelar para eventos gritantes para conquistar o
público ou levar a trama adiante. Outro fato interessante de se notar, é a
falta de aprofundamento dos personagens. Raros são os momentos em que
mergulhamos em seus psicológicos ou discutimos suas características, já que o
script se revela bem raso nisso. E estes dois pontos citados anteriormente são
os maiores alvos de críticas negativas, neste longa. Contudo, é preciso
analisa-lo de acordo com sua proposta, que não é a de simular um
Alejandro-González, mas de apenas expor pequenas crônicas diárias,
perfeitamente capazes de acontecer com todos nós, mesmo que não estejamos
envolvidos no submundo do crime ou do tráfico. A falta de aprofundamento,
portanto, soa como uma alternativa interessante de exprimir esta sensação,
junto das pequenas dimensões das tragédias.
E, para enfatizar ainda mais essa premissa, a montagem se
revela precisa ao intercalar perfeitamente a vida de cada personagem e
discernir claramente o espaço e tempo. Algo destacável dentro do âmbito
técnico, também, é a edição, que se apossa de efeitos já ultrapassados e os
transforma em algo fresco e útil. Um exemplo pode ser visto nas sequências de
telas divididas em duas ou três janelas. Este recurso geralmente pende para o
lado do exagero, ainda mais em um drama intimista. Felizmente, os editores
conseguem manejá-lo de forma a se tornar uma função sutil e requintada nas
cenas. Igualmente louvável, ainda sobre edição, são os efeitos de transição de
cenas, delicados e inteligentes. Um belo exemplo é – na cena em que o
dentista sofre pela partida de sua amada no aeroporto – quando um avião atravessa a
tela, marcando uma mudança de cena, alterando o tempo e lugar de forma
discreta. Não obstante, a trilha sonora trata de apresentar características dos
países nos quais os personagens se encontram. Assim, quando uma história se
desenrola pela primeira vez na França, uma canção francesa serve de abre-alas
para a introdução da sequência e mesmo para criar um clima certeiro.
E se sobre a técnica tenho apenas o que elogiar, do elenco
não posso fazer o mesmo. Apesar de todos cumprirem seus papéis corretamente,
ninguém (com exceção de Anthony Hopkins e Jude Law) se destaca. Rachel Weisz e Maria Flor disputam o primeiro lugar do título de “Performance mais sem sal
do filme”. Acho que Weisz ganha com ligeira vantagem.
Finalmente, as maiores congratulações devem ser concedidas à
Meirelles que, expressando uma direção segura e inteligente, consegue amarrar
todas as pontas do filme da melhor maneira possível. Além disso, Fernando emprega um recurso certeiro e muito eficaz no longa: a grande quantidade de
personagens, que são apresentados ao longo da narrativa, gradativamente, de
forma natural, orgânica e crível. Evitando um atropelo de personas e o desgaste
da trama. Com a constante inclusão de novas figuras, “360” vai se renovando e adquirindo uma vida nova a cada pessoa
inédita. O roteiro, consequentemente, não perde o ritmo e ainda ganha a
oportunidade de traçar uma rima com os 360 graus (ângulo que representa um
círculo completo). Afinal, nós andamos, andamos e não saímos do lugar,
caminhamos em círculos e sempre voltamos ao mesmo ponto. Por fim, alguns dos personagens se renovam, outros continuam como
antes, mas a mensagem central Meirelles já expôs, através de um filme que
se encerra do mesmo modo que se inicia: em círculos contínuos.
Gênero: Drama
Duração: 110 min.
Ano: 2011
2 comentários:
Hi! Great site! I'm trying to find an email address to contact you on to ask if you would please consider adding a link to my website. I'd really appreciate if you could email me back.
Thanks and have a great day!
Hey, thank you! If you put your email here, in a coment, I'd be glad to contat you!
Postar um comentário