Cinefilia 19: Pós-cerimônia

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012
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Ontem a noite (26/02), as 22:30, deu-se início a entrega das estatuetas aos concorrentes desta 84ª festa do Oscar. E, algo curioso aconteceu. Ano passado, havia elogiado deveras a qualidade da cerimônia em si, mas me decepcionado com os vencedores, ainda que esses tenham sido extremamente previsíveis (como em quase todo ano). Desta vez, o que aconteceu foi justamente o contrário. Me surpreendi positivamente com alguns vencedores, mas, em contrapartida, a festa estava fraquíssima. Apesar de o ótimo Billy Crystal apostar em piadas muito boas - principalmente as que envolveram Scorsese, o representante do Oscar e os filmes indicados -, alguns apresentadores de categorias deixaram muito a desejar. Sem contar o vergonhoso número de Chris Rock, que aparentou ter esquecido que estava se apresentando num Oscar, e não em um bar qualquer. 

Contudo, os premiados me agradaram. Apesar de alguns de meus favoritos não terem levado a estatueta dourada, os vencedores foram merecidos. Mas, claro, há sempre algumas exceções, sejam elas positivas ou negativas. Positivamente, cito a perda de "Planeta dos Macacos - A Origem" para "Hugo Cabret" em efeitos visuais. Este último, muito mais merecedor. Negativamente, está o desprezo completo para com "Os Homens que Não Amavam as Mulheres" nas categorias de som (mixagem e edição). E (desta vez bem mais particular), gostaria de ter visto "Pina" arrebatar melhor documentário. Não aconteceu. Mas isso não posso julgar, já que não vi os outros indicados.

Assim, minha porcentagem de erros e acertos foi de, mais ou menos, 45%. Número menor que ano passado, onde fechei a noite em 50%. Isso só comprova que, apesar de conferir todos os indicados (pelo menos na categoria principal), sou péssimo em fazer apostas! 

Cinefilia 18: Apostas ao Oscar 2012

domingo, 26 de fevereiro de 2012
Postado por Selton Dutra Zen 0 comentários


Hoje a noite, 26/02, acontecerá a 84ª cerimônia de entrega do Oscar. Como de praxe em todos os outros anos, farei, neste post, minhas apostas para os prêmios da noite. Porém, antes de lançá-las, gostaria de fazer um breve comentário explicativo sobre três filmes indicados que não consegui redigir uma análise mais detalhada. São eles: "Kung Fu Panda 2", "Planeta dos Macacos - A Origem" e "Rango"

"Kung Fu Panda 2", indicado a melhor filme animado, repete, basicamente, a mesma fórmula de seu antecessor, em uma versão piorada. Nunca gostei do primeiro filme, este então foi ainda mais frustrante. O problema não está nas cenas de luta, muito bem orquestradas, mas sim na história, que em nenhum momento conquista e poucas vezes diverte.

"Rango", outro candidato ao Oscar de melhor animação, se posiciona em um patamar um pouco acima do citado anteriormente, porém, ainda assim, não é lá grande coisa. Talvez não tenha funcionado comigo por eu possuir uma rejeição nata pelo gênero western. Mas, além disso, os personagens são fracos e algumas vezes bem irritantes.

E, por fim, "Planeta dos Macacos - A Origem", nomeado em melhores efeitos visuais. Sou grande admirador do filme original, de 1968, uma das melhores ficções-científicas já lançadas. Gosto tanto do original justamente por deixar a cargo do espectador desvendar o mistério da cena final. Assim, já havia criado minha teoria acerca do ocorrido e temia que este reboot fosse estragá-la com alguma justificativa imbecil. E foi exatamente isso que ocorreu. "Planeta dos Macacos - A Origem" explica o incidente de forma superficial e desinteligente demais.

Com os três filmes comentados, parto agora para as minhas apostas. Mas antes, vale ressaltar algumas colocações. A tag "aposta" é, como o próprio nome já sugere, a minha aposta para a categoria. Contudo, "meu voto iria para" denota os filmes que eu gostaria que ganhassem nas respectivas categorias.

MELHOR FILME:



Aposta: "O Artista"
Meu Voto Iria Para: "Meia-Noite em Paris"

MELHOR DIRETOR:

Martin Scorsese
Woody Allen
Terrence Malick
Michel Hazanavicius
Alexander Payne

Aposta: Michel Hazanavicius
Meu Voto Iria Para: Woody Allen

MELHOR ATOR:

Demian Bichir ("A Better Life")
George Clooney ("Os Descendentes")
Gary Oldman ("O Espião que Sabia Demais")
Jean Dujardin ("O Artista")

Aposta: Jean Dujardin
Meu Voto Iria Para: Jean Dujardin

MELHOR ATRIZ:

Glenn Close ("Albert Nobbs")
Meryl Streep ("A Dama de Ferro")
Viola Davis ("Histórias Cruzadas")
Michelle Williams ("Sete Dias com Marilyn"

Aposta: Meryl Streep
Meu Voto Iria Para: Meryl Streep. Apesar de ainda não ter visto "Dama de Ferro", Streep é uma daquelas atrizes que eu sei que estará perfeita, então, já ganha meu voto.

MELHOR ATOR COADJUVANTE:

Kenneth Branagh ("Sete Dias com Marilyn")
Christopher Plummer ("Toda Forma de Amor")
Nick Nolte ("Guerreiro")

Aposta: Kenneth Branagh
Meu Voto Iria Para: Max Von Sydow

MELHOR ATRIZ COADJUVANTE:

Bérénice Bejo ("O Artista")
Jessica Chastain ("Histórias Cruzadas")
Octavia Spencer ("Histórias Cruzadas")
Janet Mcteer ("Albert Nobbs")

Aposta: Jessica Chastain
Meu Voto Iria Para: Octavia Spencer

MELHOR ROTEIRO ORIGINAL:

"Margin Call"

Aposta: "Meia-Noite em Paris" ("A Separação" também é um forte candidato).
Meu Voto Iria Para: "A Separação"

MELHOR ROTEIRO ADAPTADO:

"Tudo Pelo Poder"
"O espião que Sabia Demais"


Aposta: "Tudo Pelo Poder"
Meu Voto Iria Para: "A Invenção de Hugo Cabret"

MELHOR FILME ESTRANGEIRO:

"Mounsieur Lazhar"
"Footnote"
"In Darkness"


Aposta: "A Separação"
Meu Voto Iria Para: "A Separação"

MELHOR ANIMAÇÃO:

"Kung Fu Panda 2" (comentado no 2º parágrafo)
"Chico e Rita"
"Gato de Botas"
"Rango" (comentado no 3º parágrafo)


Aposta: "Rango"
Meu Voto Iria Para: "Um Gato em Paris"

MELHOR TRILHA SONORA:

"As Aventuras de Tintim"
"O Espião que Sabia Demais"


Aposta: "O Artista"
Meu Voto Iria Para: "O Artista"

MELHOR CANÇÃO:

"Man or Muppet" ("Os Muppets")
"Real in Rio" ("Rio")

Aposta: "Man or Muppet"
Meu Voto Iria Para: Tecnicamente, como cidadão brasileiro, precisaria votar na música de "Rio", já que foi a única categoria a que foi indicado (apesar de ser a mais medíocre e descartável da noite). Mas, escutando novamente a música, não consigo dar meu voto a ela, te tão ruim que é. Enquanto a canção de "Os Muppets" é excelente. Então, meu voto iria para "Man or Muppet".

MELHORES EFEITOS VISUAIS:

"Planeta dos Macacos - A Origem" (comentado no 4º parágrafo)

Aposta: "Planeta dos Macacos - A Origem"
Meu Voto Iria Para: "A Invenção de Hugo Cabret"

MELHOR MAQUIAGEM:

"Albert Nobbs"
"A Dama de Ferro"


Aposta: "A Dama de Ferro"
Meu Voto Iria Para: "Harry Potter 7.2"

MELHOR FOTOGRAFIA:

"A Invenção de Hugo Cabret"

Aposta: "O Artista" ("A Árvore da Vida" também é forte candidato)
Meu Voto Iria Para: "A Árvore da Vida"

MELHOR FIGURINO:

"Anônimo"
"Jane Eyre"
"W.E"

Aposta: "A Invenção e Hugo Cabret" (chute)
Meu Voto Iria Para: "A Invenção de Hugo Cabret"

MELHOR DIREÇÃO DE ARTE:



Aposta: "O Artista"
Meu Voto Iria Para: "Harry Potter 7.2"


MELHOR MONTAGEM:

"O Homem que Mudou o Jogo"

Aposta: "Os Homens que Não Amavam as Mulheres"
Meu Voto Iria Para: "Os Homens que Não Amavam as Mulheres"

MELHOR EDIÇÃO DE SOM:

"Drive"
"Transformers - O Lado Oculto da Lua"

Aposta: "Os Homens que Não Amavam as Mulheres"
Meu Voto Iria Para: "Os Homens que Não Amavam as Mulheres"

MELHOR MIXAGEM DE SOM:



Aposta: "Os Homens que Não Amavam as Mulheres"
Meu Voto Iria Para: "Os Homens que Não Amavam as Mulheres"

MELHOR DOCUMENTÁRIO:

"Hell and Back Again"
"If a Tree Falls"
"Paradise Lost 3"
"Undefeated"


Aposta: "Pina"
Meu Voto Iria Para: "Pina"

MELHOR CURTA-METRAGEM DE DOCUMENTÁRIO:

"God is The Bigger Elvis"
"The Barber of Birmingham"
"Incident in New Baghdad"
"Saving Face"
"The Tsunami and the Cherry"
"Blossom"

Aposta: "Incident in New Baghdad" (chute)
Meu Voto Iria Para: "Incident in New Baghdad"

MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO:

"Dimanche"
"La Luna"
"The Fantastic Flying Books os Mister Morris Lessmore"
"A Morning Stroll"
"Wild Life"

Aposta: "La Luna" (chute)
Meu Voto Iria Para: "La Luna"

MELHOR CURTA-METRAGEM:

"Pentecost"
"Raju"
"The Shore"
"Time Freak"
"Tuba Atlantic"


Aposta: "Time Freak" (chute)
Meu Voto Iria Para: "Time Freak"

349. Bullhead

sábado, 25 de fevereiro de 2012
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(Mediano)

De início, "Bullhead" (ou "Rundskop", como preferirem), candidato belga a melhor filme estrangeiro no Oscar, aparenta ser um suspense policial excessivamente confuso e regular. E o é. Porém, conforme os minutos de projeção vão passando, o filme adota, cada vez mais, a abordagem de algo muito mais interessante de forma muito mais eficiente: o passado do protagonista. Apresentado como uma figura corpulenta e rude, logo somos remetidos ao seu passado (por meio de flashbacks muito bem empregados) e começamos a entender o porquê de seu caráter e de suas atitudes. Assim, pode-se afirmar que este filme se desenvolva por dois viés: o thriller policial e o drama pessoal. No primeiro, fracassa vorazmente, no segundo, acerta completamente. 

A culpa, e ao mesmo tempo, mérito desta situação pertence ao roteiro. Frio e cru, narra a trajetória de Jacky, um homem criador de gado, com um passado negro, que acaba se envolvendo com um traficante de hormônios e a morte de um policial. Mas, cá entre nós, a única coisa realmente relevante na narrativa inteira é a persona multifacetada de Jacky. Intrigante e envolvente, o personagem principal é o motivo de eu taxar este filme com uma nota, ao menos, razoável. Se no início da projeção, o julgávamos e o condenávamos por inúmeros atos seus, mais tarde, esta situação se converte em pena, complacência e até apoio, por assim dizer. Esta exploração do personagem acontece através de flashbacks magnificamente bem utilizados (talvez uma das melhores utilizações da técnica no ano passado!), que cuidam de adentrar na infância e na adolescência sofrida de Jacky. Pena que o roteiro não se encarregue de ressaltar somente este viés e deixar a trama policial em segundo lugar, simplesmente como objeto desencadeador de acontecimentos, um simples pano de fundo. Ao invés disso, "Bullhead" dedica sua primeira meia hora somente a maçante investigação, além de mais longos e inúmeros minutos a ela também. 

E se "Rundskop" erra (de certa forma) no roteiro, acerta em sua técnica. Apresenta uma fotografia panorâmica bem executada, onde a câmera parece passear pelos cenários, e uma direção de arte interessante. Porém, o que se destaca mesmo é a magistral montagem que, como já citei anteriormente, intercala entre flashbacks e cenas temporais de forma brilhante, precisa e nada repetitiva. A edição também merece aplausos por empregar transições criativas, inteligentes e discretas entre o passado e o presente. Já a edição de som é igualmente louvável. Entende perfeitamente o conceito de que a ausência de sons (se bem utilizada) pode ser muito mais claustrofóbica e angustiante que a presença de ruídos persistentes e incômodos. A execução notável deste recurso pode ser exemplificada na cena em que o protagonista (ainda criança) foge do deficiente mental que o persegue pelos campos extensos. Nesta cena, a câmera o acompanha de forma incisiva e a carência de sons funciona muito melhor do que qualquer áudio que poderia-se utilizar neste momento.  

Por consequência, "Bullhead" se afirma como um longa de técnica admirável e de roteiro repleto de passagens desnecessárias. E volto a insistir que se este filme colocasse em segundo plano a investigação policial, e abordasse muito mais o aprofundamento psicológico do protagonista, poderia ser um dos grandes filmes do ano passado.

Gênero: Drama
Duração: 124 min.
Ano: 2011

348. A Invenção de Hugo Cabret

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(Bom)

Obs.: Este post contém spoilers!


Inicialmente, estava pronto para avaliar em três estrelas este mais novo longa do ótimo Scorsese. Porém, quando as citações à Meliès e ao cinema mudo se fizeram presentes, fiquei tão maravilhado que tive que aumentar minha nota. Para se ter uma breve noção da magnificência da homenagem cinematográfica que este exemplar realiza, basta dizer que se o filme todo possuísse a mesma qualidade de sua hora final (quando se torna substancial e mais emotivo), sem sombra de dúvidas seria o melhor filme de 2011. Pena que os outros 66 minutos deixem bastante a desejar.

A história discorre em sua maior parte em uma estação de trem, onde vive Hugo Cabret, um garoto órfão que resolve, a todo custo, consertar um robô encontrado por seu pai, pouco antes de sua morte. Apesar de as engrenagens do robô estarem perfeitamente arrumadas, ele necessita de uma chave, a qual faria o homem-máquina funcionar. Ao mesmo tempo que tenta encontrar esta chave, ele inicia um romance com uma garota culta e amante da leitura. 

A prova cabal de que os primeiros 66 minutos não funcionam direito é que praticamente todas as ideias, tramas e sub-tramas que Scorsese emprega, não funcionam com o espectador. O romance se mostra sem-sal, a trama central é desinteressante e até a proposta louvável do diretor de se aprofundar na vida de alguns personagens assíduos da estação de trem deixa a desejar. Porém, nos 60 minutos finais, após os personagens descobrirem a verdadeira identidade do padrasto da garota protagonista, Georges Meliès, o filme evolui de uma forma inimaginável! Se dá início, então, à uma incursão na história do cinema, desde a descoberta de que as imagens podiam se movimentar, com os irmãos Lumière, até as mais famosas obras mudas e seus astros, referenciando "A Chegada do Trem à Estação", "A Saída dos Operários da Fábrica Lumière", "O Garoto", "O Beijo", "O Gabinete do Dr. Caligari", "Intolerância", "O Homem-Mosca", "A General", entre inúmeras outras obras-primas mudas, enquanto Scorsese cria uma cena realmente memorável (e um dos melhores momentos de toda a sua carreira), conciliando perfeitamente montagem de imagens e trilha sonora certeira. Construindo, assim, uma sequência capaz de emocionar até os cinéfilos menos emotivos. Todavia, a real homenagem é mesmo à Meliès, um dos maiores gênios da era muda. Com enfoque especialmente em "Viagem à Lua" (sua obra-prima máxima), Martin também discorre acerca de sua obras menos conhecidas, mostrando desde os bastidores da produção de curtas como "O Reino das Fadas", "Le Cake-walk Infernal" e "20.000 Léguas Submarinas", até apresentando fragmentos originais de mais curtas seus, como "O Melómano", "O Rei da Maquiagem"  e "As 400 Faces do Diabo". E, no fundo, é esse o verdadeiro propósito do filme.

E se Martin Scorsese tivesse encurtado um pouco os longos minutos precedentes desta verdadeira essência, "A Invenção de Hugo Cabret" teria resultado em algo muito melhor.

Contudo, a técnica deste longa é excepcional e cuida de, ao menos, divertir o espectador enquanto a alma da produção não chega. As imagens criadas pelo realizador são de uma beleza incontestável. Seja pela direção de arte, vanguardista; pela fotografia, remetente aos filmes homenageados; ou até pelos efeitos visuais, que apesar de provavelmente perderem para "Planeta dos Macacos - A Origem", amanhã a noite, na minha opinião, mereciam muito mais o Oscar desta categoria. E, tudo isso, é amarrado de forma brilhante pela montagem inteligente e ágil. Mas, não obstante, ainda há o 3D, nada mais, nada menos que SUBLIME (com todas as letras garrafais que merece)! Ele exige que o filme seja conferido no cinema, a todo custo. A profundidade de campo, além do detalhamento de algumas cenas, encantam até o público mais acostumado com a tecnologia. E ver trechos de obras de Meliès em terceira dimensão é uma experiência  inenarrável!

Já, no elenco, Ben Kingsley foi a escolha certeira para desempenhar o papel do cineasta pioneiro e mágico, dada suas semelhanças físicas. Kingsley emociona e ao mesmo tempo diverte com sua performance conquistadora. E um adendo interessante a se fazer é a esplêndida cena (voltando um pouco ao âmbito técnico) da sobreposição do rosto de Ben sobre o de Meliès, já no final da projeção. Por outro lado, Jude Law, que atua em poucas cenas, está fraco e um tanto artificial, eu diria.

Como consequência dos pontos altos e baixos da produção, "Hugo Cabret" merece sim ser visto no cinema, seja pela experiência visual, pelo 3D (principalmente) ou mesmo pelas referencias dignas a um cineasta que, por incrível que pareça, muitos cinéfilos deixam de lado. Porém, ando notando que, com a estreia deste longa, inúmeras pessoas se sentiram inspiradas e estão procurando ver mais curtas de Georges, o que é maravilhoso. Assim, "A Invenção de Hugo Cabret" não é um feito extraordinário, mas sim muito importante, já que as obras de Georges Meliès foram finalmente descobertas por tudo e todos. E, no fundo, há homenagem mais bela que essa?

Gênero: Aventura
Duração: 126 min.
Ano: 2011

347. Tão Forte e Tão Perto

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(Bom)

Já aviso de antemão, que o pôster deste filme engana. Possuindo, em letras destacadas, os nomes de Tom Hanks e Sandra Bullock, denotando que eles serão os protagonistas, ambos acabam sendo alguns dos artistas que menos se sobressaem na trama. Não no sentido interpretativo, mas por possuírem personagens bem secundários (embora o de Hanks leve a história adiante). O que denota um truque barato de marketing, tão comum atualmente. Mas porque fiz questão de ressaltar esse fato logo nas primeiras linhas desta análise? Porque muitas pessoas classificam "Tão Forte e Tão Perto" como "o novo filme de Sandra Bullock e Tom Hanks!", e esquecem um dos atores mais merecedores de elogios no filme inteiro: Thomas Horn. Apesar de sua performance não ser muito avassaladora e verossímil, ela chama a atenção pela segurança que o menino exala, além de conseguir, tranquilamente, carregar o filme inteiro nas costas! E mais impressionante ainda, é constatar que esta é sua primeira experiência em cinema (antes havia participado de duas séries televisivas). Portanto, o posso considerar, sem dúvidas, um talento nato e muitíssimo promissor, bem como Hailee Steinfield, ano passado. Ainda que está última seja milhares de vezes melhor que Horn. 

E já que comecei esta análise comentando o elenco, vale citar a excepcional atuação de Max Von Sydow, criado por Bergman e desgarrado do cinema sueco há mais de 40 anos, ele prova que ainda continua em forma, merecedor de sua indicação a melhor ator coadjuvante esse ano, no Oscar. Está carismático e cativante, apesar de não pronunciar uma única palavra durante toda a projeção. Viola Davis, por sua vez, está excepcional como sempre. Filmes como "A Dúvida", "Histórias Cruzadas", "Confiar" e agora este aqui, só comprovam que Davis é uma das melhores atrizes em atividade. Em contrapartida, Tom Hanks desempenha bem seu papel, porém, de forma nada marcante. E, finalizando o elenco adulto, Sandra Bullock decepciona bastante. Estava crente que seu excelente desempenho em "Um Sonho Possível" se repetiria aqui, o que, obviamente, não aconteceu. O grande problema de sua atuação não reside nas cenas mais amenas e "normais" (por falta de palavra melhor), mas sim nos momentos em que ela precisa se destacar. Portanto, quando Bullock precisa dar o máximo de si, ela se acovarda e desempenha um papel bem medíocre. Uma pena, já que realmente acreditava que a atriz finalmente tinha conseguido evoluir de sua zona de conforto (fraca, porém carismática) a um novo patamar, o de ótima atriz. Estava errado.

Uma outra surpresa que tive, além de Thomas Horn, foi o roteiro. Aborda, simplória, porém eficientemente, a trajetória de um garoto que, após perder seu pai no atentado de 11 de setembro, descobre uma chave - supostamente deixada por seu falecido progenitor - e sai a procura da fechadura que ela abriria. Posteriormente, ele recebe a ajuda de um misterioso homem mudo, com o qual inicia uma forte relação de amizade. O roteiro, como já redigi acima, é simples, porém eficaz. Constrói, com muito zelo, o caráter e as características do protagonista mirim, ao passo que evolui a história de forma bem fluída. Não que seja perfeito, pois possui alguns erros esporádicos, mas, sem pestanejar, é o melhor elemento do filme. 

A direção do competente Stephen Daldry , realizador do excelente "O Leitor" e do genial "As Horas", transpõe esse ótimo roteiro com bastante precisão à tela. Contudo, erra em algo bem desconcertante. Tenta, inúmeras vezes, transformar este filme em um drama/comédia, não conseguindo conciliar de forma adequada os dois gêneros, resultando em algumas passagens muito errôneas. Além disso, Daldry ainda opta, incansavelmente, por flashbacks (algumas vezes, gratuitos), se apoiando neles para levar a narrativa adiante. 

Assim, "Tão Forte e Tão Perto" se revelou uma surpresa positiva para mim. Embora não seja merecedor da indicação a melhor filme, este longa não deixa a desejar, em um parâmetro geral. Agora, uma coisa é fato: Daldry já teve dias melhores, de maior competência e inspiração. 

Ah, e fazendo um breve adendo antes de encerrar este meu texto: muitos criticaram o personagem do garoto o taxando de insuportável. Ironicamente, eu considero o oposto. Sua persona muito me agradou!

Gênero: Drama
Duração: 129 min.
Ano: 2011

346. Os Homens que Não Amavam as Mulheres

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
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(Bom)

Em 2009, um diretor sueco (cujo nome não me recordo neste momento) leva às telas o livro "Os Homens que Não Amavam as Mulheres" (na forma de um filme homônimo excelente), primeiro exemplar da trilogia Millenium, de Stieg Larsson, um dos mais influentes jornalistas e ativistas políticos da suécia. Sete meses depois, Daniel Alfredson decide dar continuidade a série e dirige os dois outros volumes da trinca. Lança o medíocre "A Garota que Brincava com Fogo" e, apenas dois meses depois, fecha a trilogia com o quase mediano - porém bom, "A Rainha do Castelo de Ar". Para início de conversa, fica muito claro que Alfredson não captou o clima do primeiro filme e levou o resto da saga por um caminho nada bom, excluindo o suspense e o intrigante ar de mistério e acrescentando no lugar, uma direção pretensiosa e um roteiro mal trabalhado e insípido ao extremo. E era justamente este meu receio acerca desta desnecessária refilmagem de "The Girl With the Dragon Tatoo". Temia que David Fincher não entendesse o espírito do primeiro filme e o transformasse em uma obra sem a acidez do original, covarde e negativamente palatável ao público estadunidense, para o qual este filme é voltado. 

E, nossa, como é bom ser surpreendido! Se não fosse pelo sempre ótimo Fincher, este filme poderia sim se render às manipulações cinematográficas norte americanas, porém, a mão firme do cineasta na direção cuida de entregar ao público um longa tão mordaz quanto o de 2009. Até as cenas mais pesadas do sueco - de estupro e sexo -  estão transpostas aqui de maneira igualmente chocante e graficamente muito violentas. Ouso dizer até que, estritamente nas cenas de coito (isso não se aplica às de abuso sexual), esta versão de 2011 é mais ousada e explícita que a de 09, por mostrar, inclusive, a vagina de Rooney Mara, coisa que não me lembro de ter visto na outra versão. E alguns de vocês podem estar pensando: "Mas que relevância isso têm à narrativa?". Muita. Muita relevância! Não exclusivamente na aparição do órgão genital da protagonista, mas sim na crueza das cenas de estupro, principalmente. Se as mesmas fossem retratadas de forma convencional, poupando o espectador das imagens grotescas e desconfortáveis, o roteiro não teria o mesmo efeito, nem a mesma força. Uma vez que vemos o ato em si, tomamos as dores da personagem e passamos a compreender melhor o motivo de seu estado psicológico, esporadicamente explorado pela trama. E, por falar em trama, ela se desenrola da mesma forma que o original, com algumas cenas praticamente idênticas, narrando a investigação de um jornalista (Mikael Blomkvist) e de uma hacker (Lisbeth Salander) acerca de um crime ocorrido contra uma menina, desempenhado por algum membro da própria família da garota. 

Assim, poucos diretores além de David conseguiriam refilmar algo com o objetivo estritamente comercial como este aqui da forma como foi feito. Apesar de imitar inúmeras passagens de seu antecessor, o realizador ainda consegue acrescentar sua marca registrada, sua agilidade soberba, sem deixar de lado o foco e o requinte do longa da década passada. Começo citando a aberta sensacional que, de longe, merece o patamar de melhor sequência de créditos inicias que Fincher já dirigiu! A sincronia fantástica da animação com uma versão digna da excepcional música Immigrant Song, do genial Led Zeppelin, fazem os créditos de "Clube da Luta" e "Seven" parecerem brincadeira de criança! Além disso, como de praxe nos trabalhos do realizador, a parte técnica é excepcional. Iniciando pela fotografia que, basicamente, alterna entre tons azulados e amarelados (refletindo a carga emocional da cena, bem como a locação em que decorre) acertadamente, passando pela montagem inteligente que emprega cortes certeiros nos momentos corretos, enquanto une cenas através de alguns elementos em comum (como duas pessoas acendendo cigarros), finalizando nas sublimes edição e mixagem de som, que entregam um áudio limpo, preciso e contribuinte à narrativa.

Para completar, o desempenho do elenco é também digno de ressalvas. Daniel Craig está ótimo, porém, desaparece perto da performance de Rooney Mara que, poderosa e cativante, reconstituí perfeitamente Lisbeth, sem deixar de acrescentar alguns trejeitos a mais na personagem. Apesar de não merecer ganhar em melhor atriz no Oscar deste ano, ela com certeza fez por merecer um lugar reservado para si nesta categoria.

E, em uma comparação inevitável entre os filmes de 2009 e 2011, ainda fico com o de 09. Porém, este aqui não está muito longe do mesmo patamar.  Assim, espero que, como David Fincher definitivamente entendeu o universo da série, refilme os outros dois números, pois se se apossando de uma obra de excelência como "Os Homens que Não Amavam as Mulheres" já conseguiu desempenhar este ótimo exemplar, imagine o que ele faria com os outros dois filmes fracos do trio?

Gênero: Suspense
Duração: 158 min.
Ano: 2011

345. Cavalo de Guerra

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
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(Ruim)

"Cavalo de Guerra", mais novo trabalho do decadente Spielberg, se inicia com uma sequência absurdamente clichê do cavalo nascendo. Essa mesma "criatividade" (ou falta dela, melhor dizendo) perdurará durante todo o filme, principalmente em seu final, tão melodramático e artificial, que quase se assemelha a uma novela mexicana.

Abordando a história de amizade entre um rapaz e seu cavalo (inicialmente inútil), este longa pode ser dividido em duas partes principais: A primeira compreende a relação do animal e do garoto e a segunda, a guerra. 

A parte inicial (mais especificamente, os 40 primeiros minutos) é pavorosa. O companheirismo do humano para com o cavalo é retratado da pior forma possível, enquanto o roteiro medonho abusa de frases infantiloides e preguiçosas, como "Ele é um cavalo especial" ou "Ele conseguiu! Ele conseguiu!". Além, claro, da insistência dos roteiristas em acrescentar falas no diminutivo ao garoto ("Eu vou ensiná-lo DIREITINHO"), numa tentativa frustrada de empregar um tom mais inocente à narrativa, conseguindo, somente, se tornar nada mais que ridículo.

E é difícil acreditar que o mesmo diretor de obras-primas inexoráveis como "Jurassic Park", "A Lista de Schindler" e "A Cor Púrpura", tenha realizado um trabalho de direção tão ruim quanto este aqui. Chega a espantar sua inabilidade ao selecionar as passagens que permanecerão após a edição final. A prova concreta disto é a quantidade exorbitante de cenas desnecessárias e absurdas, como a da multidão que surge do nada somente para apoiar a tentativa do rapaz de ensinar o cavalo a arar o solo.

Já a segunda parte (dos 40 minutos ao final) melhora um pouco. Com a separação dos amigos, a trama acaba deixando de lado a péssima constituição da amizade da dupla e passa a se focar, quase que exclusivamente, nas desventuras do cavalo durante a 2ª Guerra Mundial. Os diálogos bestas ainda continuam ("Ele é um CAVALO DE GUERRA!"), porém, em menor número. Mas, o que torna esta passagem melhor que sua antecessora é a presença de algumas cenas realmente interessantes e funcionais. Nesta categorização, se enquadram as sequências de guerra ou mesmo a impressionante fuga do cavalo por entre as trincheiras inimigas. E nesses momentos, a direção de Spielberg melhora consideravelmente, por realizar cenas conciliando, eficazmente, fotografia, efeitos e mise-èn-scene, que acaba, de certa forma, perdoando alguns dos erros grotescos que o realizador mantinha inicialmente, o que não quer dizer que, em um saldo geral, seu desempenho tenha sido positivo.

Agora, se há algum elemento neste filme que mereça louvores, é o âmbito técnico, quase que impecável. A fotografia é excelente, ao optar por ângulos e iluminações corretos(as), nos momentos oportunos, sem abandonar o requinte em minuto algum. Os efeitos visuais são deslumbrantes (principalmente na criação do cavalo computadorizado) e ressaltados pela ótima edição de som, poderosa e minimalista. A montagem também é muito boa, por, pelo menos, tentar acrescentar um ritmo aturável a este filme. Porém, sem o auxílio do script e do diretor, essa tarefa fica muito difícil. Quase impossível, eu diria.

Não obstante, durante a projeção, ficava me questionando se a intenção de Steven Spielberg era criar uma obra infantil ou destinada a todas as idades. Se fosse infantil, alguns dos deméritos poderiam ser relevados e "Cavalo de Guerra" conseguiria alcançar o patamar de regular. Infelizmente, cheguei a conclusão de que a intenção era a segunda opção, a de filmar uma história bonita e simples, porém, o modo como o realizador decadente apela para situações forçadas ao extremo, deixa claro que falhou vorazmente. E, se alguns afirmam que o pior exemplar da atualidade de um dos mais notórios diretores da história é o quarto filme da série "Indiana Jones", eu digo que "War Horse" é milhares de vezes inferior. Espero me surpreender com "As Aventuras de Tintim" e que esta produção que comento neste texto marque o fim da onda de obras ruins e medianas de Steven e o início da maré de bons e ótimos filmes de um diretor que, acredito eu, saturou, perdeu a habilidade de dirigir blockbusters antológicos e dramas atamente reflexivos, como costumava fazer.

Gênero: Drama/Aventura
Duração: 146 min.
Ano: 2011

344. O Homem que Mudou o Jogo

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(Mediano)

Quem me conhece, sabe que não sou uma pessoa do tipo "esportiva". Detesto qualquer esporte que envolva uma bola, e nisso incluo o baseball, por sua vez, retratado neste filme. Assim, fui conferir "O Homem que Mudou o Jogo" receoso, pois alguns críticos e comentaristas alertavam que, para um maior entendimento da história, seria necessário compreender o modo de jogar deste esporte tipicamente estadunidense. E, como desconheço as regras do mesmo, imaginava ficar deslocado durante a projeção.

Felizmente, isto não aconteceu. A questão aqui não é saber as regras do jogo (ainda que isto auxilie o espectador a gostar do filme), mas sim acompanhar a lógica proposta pelas personagens para mudar a situação do time, que está passando por sérios problemas financeiros e sociais. A compreensão é relativamente simples e a narrativa trata de deixar tudo mais fácil ainda (até demais, por sinal).

Por outro lado, a edição merece destaque por tentar quebrar a regularidade excessiva de "Moneyball", inserindo inter-títulos funcionais de forma inesperada e assimétrica. Porém, a montagem inibe ou extermina este ponto alto, com uma execução normal, que de certa forma, não acompanha o ritmo e a sensação do jogo abordado.

Já o elenco é ótimo. Brad Pitt, como em "A Árvore da Vida", está certeiramente natural, se esforçando para que seus trejeitos simples sejam justamente os elementos de destaque em sua performance. Todavia, esperava uma participação maior de Phillip Seymour Hoffman, excelente ator, que foi desprezado pela produção em um papel medíocre ao extremo, mas ainda assim, muito bem executado, dada a qualidade do artista em questão.

Por essas e outras, "O Homem que Mudou o Jogo" é um filme quase que ruim, alcançando o patamar de mediano somente pelo desempenho do elenco e de mais meia dúzia de bons elementos. Mas é um daqueles longas dispensáveis que, confesso, só assisti por ser uma das nove obras concorrentes a melhor filme este ano, no Oscar. Fraco, fraco, fraco.

Gênero: Drama
Duração: 133 min.
Ano: 2011

343. Um Gato em Paris

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012
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(Bom)


As animações francesas sempre me despertam o sentimento de nostalgia. Para citar como exemplo, pego o recente "O Mágico", que me deixou com saudades da época em que revia incansavelmente o clássico "101 Dálmatas". Esta comparação (ou melhor, lembrança) se deu pois o estilo estético da obra-prima máxima de Chomet é bem semelhante ao dos filmes da época de ouro da Disney, em especial, este dos Dálmatas. Algo equivalente se manifestou em mim, enquanto assistia a este mais novo exemplar do cinema animado da França, com a diferença de que desta vez, senti saudades dos livros infantis que costumava ler quando pequeno.

Esta nostalgia se deu, principalmente, pelo estilo do desenho (como já citado) e pela própria história, uma aventura inocente, regada a algumas gags muito divertidas. Apesar de o título, de certa forma, denotar que o gato em questão protagonizará a trama, quem domina as cenas são a garotinha e o ladrão "bondoso" (que é acompanhado pelo felino). A primeira personagem mora com sua mãe e uma babá, após a morte de seu pai. Ela possui um gato (que sai para vagar pela cidade a noite) e se questiona por onde ele deve andar em suas caminhadas noturnas. Certo dia, ela decide segui-lo e cruzando o caminho de alguns criminosos, que passam a persegui-la. Uma das coisas que mais chama a atenção no roteiro é a exploração e a evolução da trama, muito bem realizada, já que não maltrata a inteligência das crianças espectadoras (que acontece em vários exemplares infantis atualmente), o que por si só, já merece elogios, porém, o modo como o script cruza as personagens também configura, devidamente, lugar de destaque nesta análise.

Além disso, a qualidade gráfica da animação é ótima. Utilizando-se de desenhos, por vezes, exagerados e caricatos e uma incidência de luz no corpo das personas de forma atípica no cinema atual, porém constante em livros infantis, "Um Gato em Paris" faz de sua aparência um atrativo a mais.

Dessa forma, esta animação deve agradar desde crianças a adultos, e, tendo sido indicada a melhor filme de animação no Oscar deste ano, provavelmente não irá levar o prêmio para casa, uma pena, já que este se revelou, para mim, o melhor longa dentre os cinco indicados. Um filme simples e conciso que, em meros 65 minutos, consegue passar a mensagem pretendida muito bem.

Gênero: Animação
Duração: 65 min.
Ano: 2011

342. Gigantes de Aço

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
Postado por Selton Dutra Zen 1 comentários


(Horrível)

Sei que não é correto conservar um pré julgamento acerca de uma obra cinematográfica antes de assisti-la. Mas no caso de "Gigantes de Aço", é impossível não faze-lo. É impossível não ter preconceito de um filme cujo título no Brasil só não é pior que o americano ("Real Steel"), que chega a ser uma ofensa ao público pagante. Impossível não condenar um longa que possua a plot que este possui. E, pelo menos eu, sou incapaz de fechar meus olhos à frase "A coragem pode ser mais forte que o aço", que consta no pôster brasileiro (e também configura na versão estadunidense do cartaz). Assim, desconsiderando - imprudentemente - os fatos que me indicavam que, possivelmente, isto seria nada mais, nada menos que uma das maiores bombas de 2011, quando alguns exemplares desta porcaria foram compradas pela videolocadora perto de minha casa, decidi, até mesmo por falta de opções, dar uma chance ao filme. Oh! Quisera eu ter locado dois, ao invés de três filmes aquele dia. Ao menos seria poupado de 126 minutos de algo tão torturante como este filme. 

Apossando-se de uma premissa imbecil, por incrível que pareça, a execução consegue ser pior ainda! Um ex-lutador de boxe, veterano no ramo de lutas entre robôs (após o boxe humano ter sido extinto), relembra que possui um filho, após a morte de sua ex-esposa. Como pai desnaturado, decide conceder a guarda da criança a tia do menino. Porém, devido a uma oferta irrecusável, o boxer precisa passar um tempo com seu filho, em troca de dinheiro (que usaria para comprar um robô novo, após perder o seu em uma briga), enquanto os donos da guarda da criança vão viajar. E o que se segue (inclusive o final) é mais óbvio que último capítulo de novela da Globo. A preguiça (ou incapacidade?) dos roteiristas de redigirem algo, ao menos, tragável, é absurda! E o mais incrível é que eles acabam se apoiando nas sequências de ação do filme, numa tentativa fracassada de mascarar a horripilância do script. 

Porém, até nisto "Gigantes de Aço" falha! As cenas mais simples de combate entre os robôs só demonstram a incompetência do diretor, ao extrair algo tão mal realizado de um coisa relativamente fácil (quando se trata de dir. Aliás, não só nas cenas de ação a direção deixa muito a desejar, mas em qualquer outro momento do filme a incapacidade e ineficiência do realizador fica mais visível. Basta reparar na cena de abertura, durante a estadia do protagonista em uma cidade do interior. Cidade esta, por sinal, pessimamente reconstituída por uma direção de arte estereotipada e superficial ao extremo, além da fotografia pedestre e ineficiente (elementos que perduram ruins até o encerramento da produção). O único ponto louvável na parte técnica deste filme são os efeitos visuais, que, merecedores de uma indicação ao Oscar nesta respectiva categoria, são funcionais, realísticos e minimalistas. 

E, por mais inacreditável que isso possa soar, este blockbuster possui mais um ponto positivo: a desenvoltura do ator mirim que interpreta o filho do artista principal. Carismático, um tanto engraçado e convincente, o garoto cuida de melhorar um pouco (lê-se: tentar resgatar algo de bom dentre o emaranhado de imbecilidades das sequências) as passagens em que aparece. Todavia, não posso falar o mesmo de Hugh Jackman, que, ultimamente, anda trabalhando em projetos bem abaixo da média, vide "Wolverine" e "A Lista". Aqui, ele serve, quase que única e exclusivamente, como um mero "rostinho bonito", utilizado para enganar espectadores desocupados.    

Não obstante, este longa ainda erra no principal quesito de um filme blockbuster: a diversão. É incrível como "Gigantes de Aço" é arrastado e monótono, apesar de todas as cenas de ação que possui em seu saldo geral. O que acaba representando as piores coisas que este sub-gênero tem a oferecer. "Real Steel" (oh, God!) é um dos piores filmes comerciais lançados nos últimos meses. Uma porcaria inenarrável!

Gênero: Ação
Duração: 126 min.
Ano: 2011

341. Os Descendentes

domingo, 12 de fevereiro de 2012
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(Mediano)

"Os Descendentes", mais novo trabalho de Alexander Payne (do excelente "Sideways" e do regular "As Confissões de Schmidt"), é um longa tão insípido, tão mediano e tão esquecível, que mal tenho inspiração para redigir alguns parágrafos dissertando-o. Portanto, perdoem-me se este texto não for tão elucidativo quanto o costumeiro.

Para início de conversa, a história se passa no Havaí, onde um milionário (George Clooney) deve aprender a lidar com suas filhas, enquanto sua esposa, vítima de um acidente, permanece em um coma irreversível. O que se segue, então, é um festival de desventuras que assolam o protagonista. E é justamente neste ponto que reside o principal problema do filme: a excessiva leveza que anula qualquer sensação que o roteiro tente manifestar no espectador. Assim, somos incapazes de tomar as dores do personagem central, bem como nos interessarmos pela trama. Payne, com sua fraca e covarde direção, parece amenizar a dor das personagens, como se dissesse: "A mulher dele vai morrer, suas filhas são problemáticas e, ainda por cima, foi enganado por um bom tempo, mas, tubo bem! Ele está no Havaí!". Não, não está tudo bem e nada é tão florido quanto parece!

As personagens, por sua vez, fazem jus à direção. São fracas, sem-sal e levadas à tela por artistas em performances nada marcantes. Clooney, apesar de desempenhar muito bem seu papel (como de praxe deste ótimo ator), não merecia uma indicação ao Oscar na categoria em que foi nomeado, pois, apesar de alguns picos positivos em seu desempenho, sua atuação é normal demais. Porém, quem se destaca mesmo (pelo menos para mim o foi) é a atriz mirim que concede vida a filha de 17 anos do magnata, linda e talentosa.

E, por falar em Oscar, anualmente a Academia indica como um dos melhores do ano, filmes desmerecedores de tal lisonjeio. "Os Descendentes" se enquadra perfeitamente nesta regra. Não que seja ruim, mas é uma daquelas produções onde sentamos na poltrona e simplesmente vemos as imagens que passam na tela, não sentimos nada nem nos importamos com o que assistimos. Um daqueles filmes que, depois de um tempo, nem lembramos mais seu final. Ou melhor, lembramos sim, já que é algo tão clichê, preguiçoso e semelhante a tantas outras obras cinematográficas incutidas em nossa mente. E o mais estranho é que Payne, há alguns anos atrás, dirigiu "Sideways", um filme com um argumento semelhante (tragédias tratadas com clima descontraído) de forma excepcional. Pena que o acerto não tenha se repetido aqui.

Gênero: Drama
Duração: 115 min.
Ano: 2011

340. O Artista

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Postado por Selton Dutra Zen 1 comentários


(Excelente)

Logo em sua primeira cena, "O Artista" mostra a que veio. Unificando, esplendorosamente, referências inteligentes à filmes mudos e das décadas de 20 e 30, com uma trilha sonora marcante, este mais novo longa mudo acaba se revelando uma forte crítica ao sistema hollywoodiano, ao mesmo tempo que uma grande homenagem ao mesmo.  

Ambientado na época de transição dos filmes mudos para os falados, Jean Dujardin interpreta um galã que tem sua vida arruinada quando se nega a migrar para a nova tecnologia crescente, ao passo que vive um romance cheio de altos e baixos com uma atriz (Berenice Bejo) que conheceu em um de seus filmes. Mas não vá assistir a esta obra belíssima esperando uma comédia à la Chaplin ou Keaton, pois conforme os minutos vão se passando, a produção vai se tornando cada vez mais densa e dramática, com personagens depressivos, descontentes e tendenciosos ao suicídio. Porém, mesmo sob esta atmosfera pesada e sufocante, o filme ainda consegue apresentar beleza em inúmeras passagens. Isso tudo, claro, é mérito de Michel Hazanavicius, diretor corajoso e competente que, embora possua somente três exemplares em sua filmografia, denota a experiência de um veterano! Seu controle sobre a produção é admirável.

Além disso, é valido também ressaltar a qualidade técnica do filme. A começar pela ambientação extraordinária de época, com figurinos precisos, maquiagens acertadas e uma direção de arte minimalista. A fotografia também é outro elemento a se louvar. Mescla, certeiramente, iluminações e angulações recorrentes nas décadas homenageadas, com outras mais atuais, criando um requinte e uma verossimilhança invejáveis. Assim, se algo fica transparente no âmbito comentado neste parágrafo é que os envolvidos tentam, a todo custo, recriar uma época. E, sim, eles obtêm êxito!

Não só os elementos citados acima reconstituem os anos 20 e 30, mas também as performances, aparentemente exageradas e caricatas demais, resgatam o modo de desempenho interpretativo de antigamente, ao passo que homenageiam grandes astros da 7ª arte. Dujardin está fenomenal, enquanto Bejo desempenha seu papel de forma eficiente, porém não muito destacável (não entendi sua indicação ao Oscar). As pontas de atores americanos, como James Cromwell e Malcom McDowell, também foram muito bem empregadas.

E, por fim, andei notando que, em diversos meios de comunicação e em redes sociais, surge uma discussão acerca de que "O Artista" possa estar utilizando-se de referências e de supostas homenagens para mascarar sua ineficiência ou seus deméritos. Bem, eu discordo. Apesar de todas as referências, o filme possui muitos pontos positivos e consegue caminhar com as próprias pernas, sem necessitar se apoiar em grandes clássicos do cinema.

Gênero: Comédia/drama
Duração: 100 min.
Ano: 2011

339. A Separação

sábado, 4 de fevereiro de 2012
Postado por Selton Dutra Zen 1 comentários


(Excelente)


"A Separação" é um filme ousado logo em seus primeiros minutos de projeção, trazendo à tona a questão do divórcio no Irã. E, felizmente, as ousadias não param por aí. O roteiro desta obra excepcional é de uma profundidade invejável. Constrói personagens ambíguos e cativantes, ao passo que realiza críticas ferrenhas a instituições (sejam elas, o casamento, a religião, a política e os costumes) iranianas.

A história gira em torno de uma família, Nader – o pai, Simin – a mãe e Termeh – a filha, cuja matriarca decide sair da cidade por uma oportunidade de promoção em seu emprego. Como os outros dois membros da família não concordam, ela decide optar pelo divórcio e seguir sua própria vida. Uma vez que Simin sai de casa, Nader precisa reformular sua vida, e o primeiro passo seria contratar uma empregada para cuidar de seu pai, vítima de Alzheimer, enquanto está trabalhando. Porém, a serviçal contratada, Razieh, logo desencadeia uma briga com Nader, que por sua vez, acaba enxotando a empregada de sua casa. Mas o fato é que Razieh estava grávida e acaba perdendo seu bebê. Ela, junto de seu marido Hodjat alegam que Nader a fez abortar. Assim, se inicia uma disputa jurídica entre os dois casais.

Nader, Simin, Razieh e Hodjat são os quarto personagens-chave abordados pelo filme. E o script os aprofunda de uma forma admirável. A matriarca da família surge como uma figura indecisa, se deseja confiar na versão de seu marido acerca do ocorrido, ou se prefere se colocar imparcial à questão. Isso é contraposto pelo patriarca, obviamente, alegando sua inocência desde o início. Mas quem sofre na verdade é a filha do casal, que observa o psicológico de seus pais, bem como sua própria família, se desmantelando devido à pressão dos acusadores. Razieh, de início aparenta ser uma pessoa humilde e disposta, mas que, com o tempo vai se revelando capaz de tudo para conseguir o que deseja. E seu marido, é apenas um sujeito impulsivo que confia plenamente em sua cônjuge. Mas as coisas não são tão simples quanto parecem. A complexidade é muito maior. Utilizando-se da proposta de "Os fins justificam os meios", "A Separação" vai muito mais além do que o aprofundamento considerável das personagens. Com seu script voraz, a obra manipula a cabeça do próprio espectador, como em uma brincadeira, contrapondo fatos e suposições da melhor maneira possível, concedendo a culpa, hora para os acusados, ora para os acusadores. E isto, no fim das contas, acaba por manter o público interessado até os créditos finais, que, por obséquio, surgem após uma cena maravilhosa, que só comprova o modo como o roteiro brinca com os que acompanham o longa.

Além disso, a excelência não se dá somente no âmbito teórico, mas também no técnico. A ótima fotografia, em sua maior parte com câmeras na mão, acrescenta um tom certeiramente ágil que, aliada a montagem e a edição, rápida e brusca, respectivamente, impõe um tom urgente à narrativa igualmente apressada.

Por fim, "A Separação" vencerá na categoria mais óbvia da noite, a de filme estrangeiro, e espero também que leve o prêmio de melhor roteiro, pela sua ousadia (insisto) e pela sua tamanha complexidade. Excelente filme! 

Gênero: Drama
Duração: 122 min.
Ano: 2011